VITAL E O SUPERAVIT DA MENTIRA

Dentre as várias gaffes de Vital Moreira, eis mais uma, preventiva e amedrontada. Vital tem consciência da podridão ética que corrói o sector assanhado governamental, glutão por Poder e por Controlo, um Poder Caceteiro e Controleiro à força toda. Vital sabe da dissolução moral que a gestão do caso Freeport aporta para a mesma função primo-ministerial. Sabe de tudo, mas associou-se todo a essa nefanda realidade e fê-lo por (bullshitfully words) palavras, por actos e omissões. Por isso diz: «A última coisa de que Portugal precisa é da perturbação adicional de uma "tentação presidencialista" vinda de Belém.» Pelo contrário, não seria adicional, seria vital e vitalizante para romper com a dormência ética que incompreensivelmente vigora e tudo tolera. Essa é que é a pior tentação, a mais tóxica e a mais bovina num pobre povo atónito e passento. Por isso, a primeira perturbação de que Portugal precisa é uma perturbação criativa vinda das gentes e outra vinda de Belém. O silêncio de Belém pode ser lido como conivência ou como apreensão ou até como indignação, mas trata-se de um silêncio sempre pejorativo, com pejo e pejorativizante da realidade governamental no seu conjunto: das pressões por arquivamento às pressões por evitamento da matéria freeportiana, onde pontifica, destrutivo e catótico, o discurso-lixívia de Marinho Pinto. Claro que andar Cavaco cansativamente vinte anos a falar do conceito de 'estabilidade', e a falar dele agora para justificar o seu mutismo, quando as coisas estão podres, é o pior que se pode fazer para caracterizar o que deva ser uma 'democracia' que o não é de facto e constitui na verdade o nome mais mentiroso de uma pasmaceira cívica submissa ao dictat plutocrático que tudo contamina de viciação e controlo indevido. A Oligocracia Portuguesa soma e segue ao passo que o Estado de Direito agoniza. Foi precisamente ao exclusivo serviço daquela que a Legislatura se colocou no que terá sido o maior, mais cavado e mais despudorado desequilíbrio contra as gentes portuguesas postas a ganhar de menos e a pagar todas as coisas exorbitantemente, mais desprotegidas na Justiça, mais à mercê dos Fortes, em trinta e quatro anos disto. Vital gosta de um povo encurralado e a bater a bolinha baixa, a comer e a calar. Certamente pensa que todo o esforço nesse sentido terçado pelo Ali Babá de serviço, e respectivo Bando, levará a melhor. Há, porém, mais Vida para além desse superavit da Mentira.