NOJO UNÂNIME NOS SOFÁS E NAS RUAS

Não me apetece atirar-me à jugular de Miguel Relvas, agora no Brasil, em manobras de charme cujo fedor divino ainda não sentimos e talvez não sintamos: nada mais insensível e alheado dos Portugueses e de Portugal que quantos supõem que prosperarão indiferentes à nossa falência e acrescida miséria. Isto é um castelo de cartas. Há muitos pescoços a que nos devemos atirar todos os dias, gente para quem o apoio aos mais desfavorecidos é tão preocupante como arrancar pêlos dos colhões, no sofá sossegado. Relvas e Passos são os capatazes que elegemos. Quanto mais capatazes, mais elogiados são por quem tem o dinheiro e no-lo pode ou não emprestar. A sua surdez, incivilidade e serviço delegado pela Troyka prestado ao País são iguaizinhos ao serviço, incivilidade e surdez de outro bando de filhos da puta que criou todas as condições para ser possível um tal confisco impune do trabalho de milhões de nós com remissão ao desemprego de outros tantos. Não será por deixar de ser insensível e menos bando de filhos da puta que qualquer filho da puta que venha a ser Governo evitará a redução do salário mínimo. Não a queremos. Não é por ser masoquista que este Governo apanha com a nossa raiva de ânimo leve. É o Mundo, alheio às nossas dores de corno, que quer e fará tudo por que sejamos mais pobres e sem outras ilusões que as que o PIB raquítico permitam e paguem. A Grécia ajoelhou-se e não chegou. Nunca chega. Ou perdemos tempo ou atiramo-nos de bruços, já. Há uma guerra pela sustentabilidade dos estados e pela resistência à supremacia económica chinesa que não nos poupará em nada, iludamo-nos como quisermos. Este bando de filhos da puta acaba por ser muito diferente do bando de filho da puta que abriu a porta a esta agiotagem: é pelo menos um bando de filhos da puta que não se escondeu dos nossos olhos em Paris, bando a cujo cabecilha nenhuma palavra, nenhum comentário, nenhuma conta, são pedidos. Um e outro bando de filhos da puta mandam, em diferido ou em directo, um País inteiro para o caralho que o foda, em parte porque a maioria absoluta do pessoal não votou nos sucessivos bandos de filhos da puta que nos enganam e oprimem, nunca se importou demasiado, enquanto a culpa toda era dos professores ou dos juízes ou de qualquer outra corporação sob esbulho selectivo. Agora podemos encher as praças, babar de raiva, assistir à voz beata do Partido Merda Socialista a chorar e a imprecar o Partido Merda Social Democrata: ninguém, nenhum Governo, nenhum Poder Interno Alternativo, inverterá a decretada transferência de dinheiro dos trabalhadores para as empresas, apesar da abissal, cultural e idiossincrática diferença portuguesa entre Ricos e Miseráveis, sem qualquer esperança de mais emprego, sem sentido de responsabilidade dos que mais têm. Teremos mais violência. Teremos mais desespero. Depois de levantarmos a voz nessas praças apertadas do País para manifestar o nojo unânime por estes filhos da puta, voltaremos derrotados ao sofá. Sempre fui professor. Não me deixam ser, talvez não mais volte a incendiar de paixão e fervor uma sala de aula, como o fiz nos dezasseis anos passados. A minha única esperança é cultivar umas couves em casa, cuidar das minhas árvores, das minhas filhas e que Cristiano Ronaldo [risos!], qualquer espécie de cristiano tristonho [obesos por oportunismo histórico, como Mário Soares, obesos por mérito e instinto de predador social, como Belmiro, ou obesos do roubo mais desavergonhado e onanista graças às punhetas da política, como Dias Loureiro], me transfiram cinco euros para comprar uns pães e uns iogurtes. Não há mais nada.

Comments

JotaB said…
José Gomes Ferreira e Tiago Caiado Guerreiro sobre as mais recentes medidas de mais austeridade anunciadas pelo 1º Ministro Pedro Passos Coelho.

Sic Noticias 07.09.2012

http://www.youtube.com/watch?v=jTm2ydfP_ko&feature=related
Caro amigo
A sua escrita e a sua raiva é também a nossa.
Estes filhos da puta que enchem as bancadas da assembleia deveriam ser todos, mas todos, postos a trabalhar de sol a sol no Alentejo para ver se percebiam o que é o País e o que é viver com vencimentos minimos, ou sem vencimentos.
Queremos mantê-lo neste combate e essa é a principal razão para o pequeno contributo que iremos transferir-lhe. É pena que neste País sejam marginalizadas pessoas com a sua competência e dimensão. Obrigado por tudo aquilo que tem escrito.
Forte abraço
Anonymous said…
Caro Joaquim Carlos
Não há um dia que não passe por aqui.
Se a sua capacidade profissional tiver a mesma qualidade da sua escrita, então o Joaquim é sem dúvida um excelente professor e o ensino só perde por não tê-lo incluído nos seus quadros.
Desejo tudo de bom para si e suas filhotas.
joshua said…
Grato de todo o coração, Caríssimos Amigos.
Faço minhas, as palavras dos caros comentadores anteriores, Força Emergente e Anónimo. Venho regularmente ler as suas publicações com as quais estou, geralmente, mais de acordo do que o contrário. Escrevo isto para que não se pense que os comentadores (socialistas?) que vêm denegri-lo, diminui-lo, ou mesmo, insultá-lo, estão em maioria ou, como é seu apanágio, que se julguem donos da verdade.
Vasco said…
Também eu aqui venho regularmente por causa dos escritos que me reconfortam e que, vezes sem conta, reencaminho ou copio, depende do destinatário(a), para os difundir. Mas alguns termos mais ´populares` prejudicam a difusão das mensagens. Paciência…
Vasco

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