REGIME PORTUGUÊS: ÚLTIMOS DIAS DO RANÇO

Esta segunda década do século XXI começa mal para Portugal, mas é o corolário de outra, perdida, e de erros gravíssimos segregados pela nossa obscena e rapace partidocracia. Repare-se em quem defende o Regime, tal como ele está, repare-se em quem procura a todo o transe defender a assimetria entre o esbulho imposto à generalidade dos cidadãos e a salvaguarda da casta de privilegiados que insiste em que tudo permaneça como até aqui, defendendo a sua coutada de rendas e interesses. O começo de todo este nó górdio foi o 25 de Abril, o caos em progresso, a ganância da matriz socialista, a partir dos quais a política se tornou gradualmente pasto do assalto oligarca e de um tipo de cumplicidade na colonização partidária do Estado em crescendo pelas décadas. Se nos encontramos perto do colapso dada a iminência de uma crise política praticamente inevitável, dada a brutalidade fiscal, mas também pelo pendor incendiário reles dos senadores oficiosos e donos do Regime, há que perguntar se valerá a pena trocar o sofrimento certo e sabido pelo caos acrescido e o acrescido sofrimento levado às Pessoas. As Pessoas devem ser amadas. Os políticos deveriam servi-las com paixão e entrega totais. Mas não. Governos devassos, desgraças baças. Chegados aqui, não há governação que brilhe, não é possível lucidez: o Primeiro-Ministro não mostra a cara porque a vaia segue canina muito para lá do pacote fiscal e da falecida ou adiada TSU. Não temos  Presidente, o que é natural e está bem. Nunca tivemos. Nem sequer confiamos em que acabe por organizar um Governo de Salvação Nacional porque a nomenklatura nacional é pouco recomendável aos olhos europeus e se esse 'Governo de Indigitação sem Sufrágio' se fosse semelhante ao Conselho de Estado, era o ranço do Regime, tudo o que abominamos, a permanecer intacto, premiado, porque a partidocracia actual é o problema. Não tem nem legitimidade nem força para se regenerar sem que o sistema reinicie apenas no pressuposto da responsabilização directa de todo e qualquer actor político. Sou contra mais invenções criativas para o cumprimento do Memorando da Troyka, uma vez que a austeridade é para durar, está já a mudar a face da economia quer com sinais muito positivos quer com outros algo perturbadores. Por isso estender-se-á para lá de 2014, uma vez que não somos donos absolutos do nosso tempo económico ou do tempo futuro numa economia global repleta de variáveis, cabendo-nos fazer o que estiver nas nossas mãos. Os prazos rígidos não fazem justiça a variáveis com tendência para agravamento como o desemprego, novos aposentados, superavit comercial ou recuo. Não nos venham com prazos. Precisamos é de novos políticos e formas absolutamente límpidas de fazer política sem brincar com as vidas das pessoas e isso poderá passar pelas praças, pela pressão serena e silenciosa das multidões nas ruas, sem sangue nem batalhas campais. Apenas com uma ideia muito clara: represente-nos apenas quem tenha as mãos limpas. Os partidos estão decadentes, sendo a respectiva mediocridade e caducidade uma regra de ouro. Aliás, não é só a Constituição que carece de mudança: é preciso abrir o ovo fechado da interacção democrática, tem de ser possível e aberto que qualquer cidadão com projectos, apoios, ideias, possa ver-se eleito deputado. Estes são os últimos dias de Pompeia. Pompeia é Portugal a braços com uma explosão de indignação e a exigência firme de virar o Regime de pernas para o ar, o que é muitíssimo mais que a mera queda de bruços de um Governo circunstancial, castrado pelos crimes dos Governos predecessores e acuado pela inflexibilidade dos credores.

Comments

Popular Posts