A DECOMPOSIÇÃO INTELECTUAL DO PROTESTO

Na Grécia, o protesto mais puro e desesperado degenera em violência bárbara, contraproducente, em tiro no pé, bravata que espanta turistas e engonha negócios, arruinando a imagem externa do País, indelevelmente olhado como caótico e ingovernável. Os gregos já sabem que quando tudo está mau, ainda pode piorar. E piora mesmo. Não têm sabido ajudar-se. E os seus políticos mostram-se tão ou mais medíocres que os nossos, a começar pelos que são estritamente dependentes da política, como os nossos 'socialistas' que se profissionalizaram em paleio, golpes concelhios, tachos públicos, e em geral não têm, nunca tiveram, profissão sólida e acalentada. Veja-se a biografia de Vara. Veja-se a de José Sócrates. Em Portugal, a decomposição intelectual do protesto é filha do défice de escrutínio político e gerou outro fenómeno: obnubilação perante a realidade. Surdem agora hordas de revolucionários, metidos entre Povo. Estiveram a dormir na forma quando mais TGV significava mais investimento público e, portanto, bom para o emprego e a economia. Surgem muito zangados, só agora, mas foram encornados ao longo dos anos. Protestam. Insultam. Dizem «Filhos da puta!», dizem «Gatunos!», dizem «Troykaralho!», «Abaixo o Governo!», mas falta-lhes de um fio mnemónico coerente que lhes explique o quanto tudo isto releva de anos recheados de alienação e futilidade. O protesto, a greve, a mobilização, são um flop. Em Lisboa. No Porto. Em Barcelos! A ignorância é muita. A insegurança ainda maior. Portanto, o protesto não passa de flácido. Coisa completamente desgarrada. Foi com essa dispersão desorganizada que os corruptos mais sacanas e sorrateiros contaram para poder escapar incólumes no tempo do optimismo charlatão e da obra-dívida atrás de obra-dívida. Mais estátua, menos estátua, não houve moral para condenar anos de devastação e gestão danosa? Também não deveria haver moral para protestar os esboços de salvação desesperada do actual Governo. Enfim, é a decomposição, a falência óptica do nosso protesto. De Barcelos, salva-se isto: «A estátua ao “Santo Condestável” é em bronze, mede 2,20 metros e pesa 800 quilos.» Só e mais nada.

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