A GRISALHA MANELA E O GRISALHO SILVA LOPES
Não poderia haver maior Babel que o comentário político-económico em Portugal, se por trás não houvesse uma teia de interesses particulares e de estômagos inseparáveis dos seus privilégios, enquanto a maioria definha e morre. Manuela Ferreira Leite, por exemplo, tem sido uma acérrima defensora das suas pensões e das decisões de atrito, óbice e agravamento do Tribunal Constitucional. Fá-lo com argumentos legitimistas mais emocionais que racionais, mais tacticistas e politiqueiros que radicados na gestão fria das contas públicas, talvez desconhecedora das extremas dificuldades com que os portugueses encheram vinte aviões para ir ver o Sport Lisboa e Benfica brilhar em Amesterdão. Pois agora, corajoso num ponto lá, onde em tantas matérias não o foi, especialmente aquando das governações deprimentes do Partido Socialista, vem o antigo ministro das Finanças Silva Lopes defender as taxas sobre as pensões que o Governo [a Troika, Bruxelas, Berlim, o Inferno] quer aplicar em alternativa às medidas chumbadas pelo Tribunal Constitucional.
Porquê? Porque, diz Silva Lopes, «não há outro remédio».
Porque a geração mais nova está a ser asfixiada pelos mais velhos, vocifera. Porque a geração grisalha não pode asfixiar a geração nova da maneira como tem feito até aqui, garante. Não pode ser, insiste: «Eu sou pensionista, sou da geração grisalha, quem me dera a mim que não toquem nas reformas, mas tocam, vão tocar e eu acho muito bem. Não há outro remédio.»
Porque a geração mais nova está a ser asfixiada pelos mais velhos, vocifera. Porque a geração grisalha não pode asfixiar a geração nova da maneira como tem feito até aqui, garante. Não pode ser, insiste: «Eu sou pensionista, sou da geração grisalha, quem me dera a mim que não toquem nas reformas, mas tocam, vão tocar e eu acho muito bem. Não há outro remédio.»
Silva Lopes parece ser daqueles que reconhecem muitas injustiças em matéria de pensões e reformas, talvez mesmo a sua e a de muitos políticos e privilegiados reformados aos 40 ou 50 anos e outras distorções da Justiça, e que é de todo impossível, nesta e noutras matérias, ter sol na eira e chuva no nabal.
De resto, cada decisão constitucionalíssima do Tribunal Constitucional, ao não dar aval a algumas das medidas de absoluta emergência inscritas no Orçamento do Estado para 2013, só tem cavado o agravamento da crise em Portugal, uma vez que à pala da recusa daquelas, o Governo, a Troyka, Bruxelas, Berlim, o Inferno, apresentam-nos alternativas cada vez mais gravosas, ainda que, segundo muitos, mentindo e escamoteando outro tipo de medidas que o Partido Socialista ainda não apresentou e o CDS-PS, vasculhando por todos os caixotes e interstícios da Reforma do Estado, também não vislumbra.
Neste ponto, Silva Lopes parte mesmo a loiça e mostra-se uma espécie de anti-Manela e anti-chorão Seguro e anti-Portas, fazendo da Manela, do Chorão Seguro e do Portas três indignados segundo a óptica do que soa mais manso e melhor. A primeira, corporativa, sem sentido do todo. O segundo meramente cantando a música mais doce, o terceiro em negaças, esquivas e jogos de cintura. Porém, Silva Lopes, um ancião com alguma autoridade para falar, é taxativo: «Sou a favor da contribuição de solidariedade social, sou a favor desta taxa que o Governo agora promete e que, se calhar, também vai ser declarada inconstitucional. E digo uma coisa: se nós temos a Constituição e a interpretação do Tribunal Constitucional a impedir estas coisas, isto rebenta tudo.»
Então a líder da Oposição Portas, Manuela Ferreira Leite e o seu ajudante Seguro querem que isto rebente tudo? Não seria ideal evitarmos, por todas as formas, um segundo resgate, agora que a França atascou na recessão, a Alemanha está lá muito perto e a insuspeita Holanda está a viver, afinal, gigantescamente acima das suas possibilidades e com uma bomba entre mãos?! Estamos, é certo, num nível de austeridade insustentável. A pressão é total. Saídas? Silva Lopes, um sustentáculo dos Governos Sócrates pelas opiniões sucessivamente favoráveis, quando toda a gente já estava a ver o filme, não deixa de surpreender, debitando ao arrepio dos grandes coreutas de uma desgraça anunciada. Não se pode dizer que esteja cego, seja covarde ou raciocine segundo as lógicas estritamente político-partidária: «A decisão do Tribunal Constitucional vai custar-nos muito, muito caro». Com esta história das pensões, o melão está bem à vista.
Comments
moz
vamos ter de viver com o que conseguirmos produzir.
falta tecnologia e vontade de trabalhar