AGORA É TARDE

A fragilidade da classe docente portuguesa reside na extrema desigualdade e assimetria entre a base e o topo da carreira: não há coincidência de interesses quando a retribuição de uns se vê esmagada de tão injusta e a de outros exponenciada muitas vezes sem qualquer justificação. A fragilidade de qualquer desigualdade classista consiste no extremo individualismo e no extremo egoísmo de cada uma das suas partes, insensíveis ou alheias aos que servem de modo eternamente barato o mesmo sistema de que outros se servem para não fazerem a ponta de um corno. Foi esse individualismo e egoísmo que lograram enfraquecer a classe, somados à fragmentação das causas e das lutas do passado: bastou a queda de um protesto justo, contra a pseudo-avaliação. O recuo deu-se perto da estocada final, quando a cabeça desvairada de uma ministra louca estava por uma unha. A FENPROF recuou. Defraudou a confiança nela deposta, apesar da mitigação do problema. A luta morreu. Hoje, a bússola é outra. Não é a lógica cretina, persecutória, vexatória da manada docente aquilo que comanda o MEC, conforme fora no maligno consulado de Maria de Lurdes Rodrigues. São os números. Os números, aliás, comandam todos os ministérios. Isso é óbvio e implica estar o jogo das prioridades virado do avesso e de pernas para o ar. Queriam ter força para lutar? Lutassem. Olhassem para o lado e para baixo. Agora é tarde. A Opinião Pública poderá acreditar pouco no MEC, na sua boa-fé negocial, mas acreditará ainda menos na chantagem grevista dos docentes sobre os próximos exames. Agora é tarde.

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