A BOSTA NUNCA É RIGOROSAMENTE A MESMA

Sobre Soares já escrevi de mais. Em 1974, aparecendo como um herói com as costas aquecidas pela CIA, passou a defender a democracia em Portugal no século XX como negócio a que foi persuadido à última da hora: foi especialmente bom para a elite soberba que, com o mesmo pedantóide Soares, substituiu a soberba corporação que dominara Portugal e envelhecia no Estado Novo. Sobre Soares não há nada que se possa dizer que suplante as figuras miseráveis, mesquinhas, conspirativas, que anda a fazer: falam por si e não são de agora. De todos os pecados mais grosseiros do desbragado idoso desbocado, apoiar Sócrates, comparecer em comícios de apoio a tal figura e voar baixinho no meio da devastação centro-africana deixada pelo socratismo, foi por demais imperdoável. O que deveras me encanita é que esse Soares e o pessoal degenerado do socratismo, demasiado alive and kicking no seu impudor, unidos a uma só voz-bosta, apareçam hoje a ultrapassar a Realidade pela Esquerda, desenvolvendo uma crítica à governação Passos fora de uma complementar crítica honesta que varra a eito todo o espectro político português, que os inclua a eles todos e os condene igual e inapelavelmente. A essa cambada de abutres que nos não representa no sentido sagrado do termo esperava-se que não gastasse o mau latim a fomentar o fosso ignominioso entre um Nós e um Eles, quando PS, PSD, CDS-PP são um todo quase homogéneo na malfeitoria gerada ao País, hoje divididos apenas porque o PS confortavelmente não quer assumir o odioso, o abominável ónus, de cooperar na refundação do Estado Português segundo novas bases tão realistas quanto miseráveis, covardia em que é manifestamente secundado por Paulo Portas e a parte do CDS-PP ainda com veleidades eleitorais. BE e PCP mostram-se arcaicos na retórica, lastro bloqueador e empobrecedor nas formas de luta, e por isso não concitam confiança de espécie nenhuma. Ninguém vota nisto. Não há na verdade uma Direita traduzível pelo PSD e pelo CDS-PP contraposta a uma Esquerda Moderada ou Radical representada respectivamente pelo PS e pelas Oposições PCP e BE: o sistema político português é uma unidade reciprocada e feita de um só e fechado mutualismo. Para todos os efeitos, até aqui, Portugal foi entregue aos lobos mais sedentos de sangue e aos chacais mais corruptos, sendo que agora o programa de empobrecimento radical e de desmantelamento do Estado Social é o que tem de ser, ditado em grande medida pelas lógicas europeias de sobrevivência do Euro, de crise generalizada dos sistemas sociais, da substituição das economias insufladas de fingimento e falsificação dos Países Integrantes por economias não passíveis de trapaça e pantomina para ganhar eleições. Se os Governos de Piratas e de Palhaços, com um Sócrates ao leme e um Boneco a fazer de Ministro das Finanças, não tiveram qualquer oposição atempada dos espíritos mais lúcidos, nem sequer de Belém, onde o calculismo e a covardia pontificaram, relegando para o momento mais oportuno a responsabilidade presidencial de dissolver um Governo de Videirinhos e Arranjistas, o que temos hoje à frente de Portugal é finalmente a impopularidade toda concentrada num só Primeiro-Ministro, num só Governo, os quais, se se guiassem pelo fervor eleitoral, não produziriam nem metade do reformismo cortante e impiedoso que os tem norteado nem suscitariam todo o catarro demente que Soares cuspilha. Bendita bruteza e impopularidade as deste Governo! Toda a gente, a não ser alguns blogues e os mais independentes dos portugueses, comeu e calou as doses de charlatanismo alquímico-científico que vazavam do José Sócrates Político e da sua trupe cara de prestidigitadores e vendedores de petas. Seguro calou, silenciou e pactuou com o que conhecia bem de perto. Hoje fala a medo, mas já gesticula alquímica-cientificamente segundo os mesmíssimos padrões filibusteiros da palavra vácua e do gesto enfático que nos não põem pão nem paz à mesa, técnica da oratória moderna enquanto mecanismo para vender mentiras, semear ilusões, inventar paraísos. O que Soares tem dito de Passos e do Governo Passos, por ser grotesco e primário, por roçar o homicida-instigador, reabilita automaticamente o que visa detrair. Isto é trágico. Para detrair um Governo como o de Passos o que era preciso é que sovinas favorecidos pelo Estado em milhões, ladrões com o rei-na-barriga, vampiros com décadas de dente ferrado nos contribuintes, rapaces contumazes, inúteis ex-governantes, ficassem calados. Pelo menos. Como falam, como falam a toda a hora, toda a gente infere aí outros interesses mesquinhos, interesses de tios e tias da linha de Cascais sem noção de Povo: quando falam, reabilitam e enobrecem a política mesmo no que tem de terra queimada e de sacrifícios brutais que o directório berlinense impõe também a nossa terra. Por outro lado, se era fácil e obrigatório odiar-abominar Sócrates, o seu aparecimento omnipresente, a sua face provocatória, a sua pose absolutista, a sua insolência hedionda, hubris permanente de discursar idiotias e comissionar à força toda os negócios de Estado, torna-se-nos mais difícil abominar-odiar o desaparecimento em que basicamente assenta a acção do Executivo Passos. Há Governo, mas não aparece. Não inunda os media. Não sufoca diariamente as TV. Ninguém odeia o que não se vê nem aparece. Xuxas e Socratinos dicotomizam a coisa política nacional como se não fossem feitos da mesma matéria merdosa que nos trouxe a estes apertos. Para quê invocar a campanha eleitoral de Passos, cujo programa foi depois consabidamente traído e rasgado, se por exemplo o conceito de verdade aí propalado se inscreve no princípio de viver com o que se tem, com o que se produz, com aquilo que um Orçamento é realmente capaz de cobrir ou pagar?! É novo? É. Não foi assim que vivemos de 2005 a 2011 e mesmo antes porque o interesse nacional foi criminosa e sistematicamente submetido à agenda eleitoral. Insista-se nisto: todas as calúnias e suspeições que recobrem e abrangem a pessoa política do abjecto imune e impune José Sócrates são de menos: a realidade foi muitíssimo pior, o descaramento superou qualquer outro cretino e ladrão de que reze a História nacional e internacional. O Mal Moral, a Devassidão dos Processos, a Esterilidade das Medidas, o Abuso de Poder, o Comissionismo Grosseiro e Desabrido, foram tais que não há forma de o descrever sem que nos borremos de vergonha e desgosto. Os frutos estão à vista. Vieram, portanto, os Palhaços e destruíram as contas do Estado. Boicotaram a capacidade de recuperação económica das empresas. Comprometeram a qualidade de vida da classe média, condenada à partida pelo escalar exponencial da dívida pública, pois já se sabia antecipadamente quem a pagaria no final. Só por escárnio e suma malícia intelectual é que se pode esperar da execução orçamental 2013 um acerto assertivo com o País desmantelado e endividado e com tantos e tais Buracos no Asfalto. Odiámos, portanto, o que havia para odiar. Hoje, a austeridade é compreendida pela rua como o Karma Lógico de quem recaiu nas mesmas circunstâncias que possibilitaram uma intervenção externa, de Cavaco a Sócrates: se a situação era negra, a solução nunca seria fácil. Antes, com os Palhaços-Sócrates, era a mentira, a gula, o açambarcamento pessoal à conta dos negócios de Estado. Agora, com os Coveiros-Passos, temos a aplicação do Memorando talvez aos trancos e barrancos, mas segundo uma sobriedade que não nos poupa porque talvez jamais nos pudesse poupar, não poupando, o que é inédito, os interesses e o ócio venenoso de Mário Inenarrável Soares, Sua Reverência que este Governo não reverencia. Toda a miséria intelectual, demissão cívica e opulência sectária fizeram escola, montaram tenda e prosperaram entre a tribo de grunhos que Soares fundou, Sócrates levou ao ápice e ainda hoje nostalgia este último, como se tal monte de merda que pensava ser o novo Apolo, Rei Sol de todas as tretas e de todas as petas tivesse ainda o que sacar do cu com um gancho para surpreender e seduzir eleitorados. Só grunhos dicotomizam a Política entre Direita e Esquerda; só grunhos falam em ter modernizado o País quando o seu legado foi dívida, deserto na economia, exterminação abortiva, reduzindo simbolicamente a pobreza apenas como biombo para outros negócios e o seu expresso e exponencial enriquecimento, aumentando postiçamente a qualificação de largos estratos sociais para o nada e a ilusão. Não houve dinheiro que sustivesse o legítimo e regenerador ódio ao Poder-Pulha e Analfabruto Socratista, apesar da compra da comunicação social, dos Figos, dos Filipe Vieira e de quantos se venderam e novamente se venderiam. Tornámo-nos alérgicos à merdeirice, à pedantaria xuxa, ao solipsismo sociopata de Sócrates e dos seus. Hoje, o sofrimento geral é a coisa mais sincera, natural e inevitável do Cosmos, sem que nos façam a cabeça do contrário, sem que nos entretenham a ver se o esquecemos. O normal é isto. Sofrimento social. É a tal verdade injusta e filha da puta, mais verdadeira e real que a ronha ronhosa do Visconde Soares, na sua jumentada verbosa. É pela realidade e com a realidade que vamos. Sonho? Emergir entre nós muito mais união e solidariedade sem esperar absolutamente nada do Estado, frágil certeza e vicioso assento etéreo Privativo do Soares e do diabo que o carregue.

Comments

Floribundus said…
desse inútil que desgraçou o rectângulo e chamou 2 vezes o fmi

diria: cala a boca murcon
SÃO TODOS IGUAIS e UMA CAMBADA DE HIPÓCRATES.

http://jose-pires-um-ser-livre.blogspot.pt/2012/12/o-goldman-sachs-nao-e-um-simples-banco.html
João Amorim said…
Excelente artigo, caro Joaquim.

abraço
Maria said…
Um belíssimo juízo que subscrevo. Pena que não conste num qualquer jornal em artigo de opinião.
José Domingos said…
Assino por baixo. Labregos, que sempre fizeram vida com o dinheiro dos outros. A este soba, tiraram-lhe uns miseros trocos, do nosso dinheiro, e abriu logo a sargeta.

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