Há qualquer coisa
nesta morte que me aflige e me toca e me enche de uma empatia absoluta, desmedida, como se fosse comigo, como se fosse eu mesmo. Está frio. De algum modo enregela-se-nos bem mais que o corpo, perante isto. Interrogo-me o que era a vida de Jacintha antes do telefonema, o que se passou logo a seguir, após a brincadeira do canal
Nine Network, pelos locutores Mel Greig e Michael Christian, até culminar na sua morte por enforcamento. Há certamente mais, muito mais, por detrás desta perda tal como há milhões de Jacinthas por eclodir trágicas, tristeza para que se não inventaram ainda palavras. Poderias ser tu esse sofredor silencioso cujo íntimo jaz submerso na maior parte, icebergue de dores e de penas. Poderia ser eu, angustiado, terrivelmente em baixo, com o corpo e a alma, todo o meu ser, na ânsia de um catalisador qualquer, um pretexto para, agora sim, descrença completa na Humanidade, acabar. Por isso quero saber, tenho direito a saber, o tom e a substância do antes e depois daquele telefonema. Quero saber, tenho o direito de saber, tudo o que te fez desaguar nessa partida-punhal que nos estarrece, Jacintha!
Comments
uma vitima da nova economia na imprensa, onde como noutros sectores, tudo vale para aumentar vendas, rentabilidade, produtividade.
Dotada de algo raro, uma auto-consciência de valores onde tem lugar a vergonha, presa de complexos que as sociedades pós-modernas fizeram por abolir, a bem de uma liberdade libertina.
Uma consciência e auto-consciência, que jamais poderemos vislumbrar nos inúmeros agentes políticos de topo destas sociedades.
Eles, os nossos, andam por aí: Guterres & Barroso, Sócrates & Vara, Valentim & Isaltinos...
Nâo tenhamos dúvidas, meu caro.
Prefiro os seus textos carregados de raiva contra o filho da puta parisiense do que entrever nestas linhas uma profunda tristeza e desânimo.
Não desista Joaquim, não atire a toalha ao chão.
Um grande, grande abraço.