AUTO DA PORCA DO REGIME XIII

[As Aventuras do Santa Alcoveta] 

Sócrash, o Santa Alcoveta, o Alcoveta corruptora e corrupta de todos arranjinhos e de todas as possibilidades, está finalmente, milagrosamente, preso. Sente saudade de muitas coisas, sobretudo tocar, pegar, cheirar as suas fotocópias. Ter à mão o seu ricaço protector, o advogado infernal Proeza de Caralho, um dos Bispos Negros do Regime, podre de rico e voz mediática infalível, sentenciosa e papal, após décadas de coitos proventosos com o Centrão na rapina que nos sorve, mata e espezinha. Por isso, a partir de Évora imagina-se a convidá-lo para um almoço imaginário numa tasca chique da Capital. O primeiro a chegar seria o democrático Mefistófeles, príncipe dos mais iguais dentre todos nós. Logo em seguida chegaria numa aura gloriosa SóCrash, o Santa Puta, recheado de fotocópias. Estaria a chover. Um solícito empregado viria, de guarda-chuva em punho, ao encontro destes dois sinistros optimistas sempre a rapar:

— Ó meu zeloso protector, advogado Proeza de Carralho, vamos cá celebrar-nos e beber uma pinga. — Meu caro Santa Puta Detrito 44, quanta honra!
— Nós, os que não temos escrúpulos na palavra e na venalidade, somos dos mais ditosos na terra.
— Vale a pena, Santa Puta. O dinheiro é tudo o que vale a pena neste mundo.
— E o sexo... Bem, o sexo, logo a seguir ao exercício do Poder. Apanha-se mais, Proeza de Caralho.
— Santa Puta, trata-me por De Caralho.

— Trato-te como tu quiseres, De Caralho. És uma das figuras-chave desta choldra. Ensinas-nos a abarbatar e a ficar sempre por cima.
— Adoro ir às televisões expor umas coisas sofistas, Santa Puta.
— Eu também gosto da sensação de lançar uma convicta nuvem de treta, De Caralho.
— Sabes quem é que me venera supremamente, Santa Puta?
— Todos os pivots, De Caralho! Agora a sério, não, não sei.
— A Lourenço, da SICN. Tenho um advogado, o AraSujo, que te vou dar por brinquedo. Podes explodir de cólera à vontadinha. Ele aguenta.


— A Lourenço, sim, é muito simpática e amiga do nosso Rato, De Caralho.
— Gosto de mostrar esta minha seráfica imagem de sibila, demonstrar que a parte de leão que tomamos na sociedade portuguesa e contra os contribuintes portugueses faz parte da democracia que tantas alegrias lhe tem dado, Santa Puta.
— Sim. Toda a nossa rapina é democrática, De Caralho. Ao contrário do 'fassismo' que era tenebroso, e da Direita Decadente que está a pagar a dívida que contraímos.
— E eu sou a prova viva da ventura e felicidade proporcionada pela democracia de casta, sou advogado e presidente não executivo da Zon, cujo maior accionista é Isabel dos Santos.
— Foda-se, pá, De Caralho. Eu só consegui ser Primeiro-Ministro.
— Fui também um dos advogados que tratou da restituição de 150 milhões de dólares que Angola havia transferido para um advogado para comprar 49% do Banif.
— Foda-se, pá, De Caralho, és assombroso. Ainda por cima estiveste a trabalhar nesse caso desde 1994, mas o Estado angolano só se considerou ressarcido em 2010.

— Calma, Santa Puta, deixa-me expor-te claramente o meu... o nosso conceito de democracia de casta. Sou também um dos accionistas da Interoceânico, sou igualmente presidente não executivo da Cimpor, dominada pela Camargo Corrêa, aliada da Interoceânico no BCP.
— Foda-se, pá, De Caralho. Tu és tudo, pá.
— Calma, Santa Puta, se não sabes, ficas a saber que a candidatura do grupo francês Altice à compra da PT Portugal aos brasileiros da Oi conta com a participação de vários escritórios de advogados e bancos de investimento e todos trabalhamos neste processo que poderá dar origem a um negócio superior a dois mil milhões de euros aos escritórios Uría Menéndez Proença de Carvalho, bem como aos bancos BTG Pactual, Goldman Sachs e Morgan Stanley e essa boutique de investimento Perella Weinberg, que está de regresso a Portugal depois das privatizações de 2011.

— Foda-se, pá, De Caralho. Tanto dinheiro.
— Mas tu rapinaste muito, Santa Puta... Não te chega o que agasalhas?!
— Pá, De Caralho, essa cena vicia.
— Pois é, a quem o dizes... Mas olha, com a minha Uría Menéndez Proença de Carvalho estou a apoiar a Altice, com uma equipa de peso, composta pelos sócios, eu mesmo, Daniel Proença de Carralho, António Villacampa Serrano e Filipe Romão.
— Foda-se, pá, tanta gente a ganhar carcanhol, pá...
— A Altice conta ainda com dois escritórios franceses.Nota que a disputa pela PT tinha ganho novo fôlego, com a empresária angolana Isabel dos Santos a oferecer 1,21 mil milhões de euros pela PT SGPS através do lançamento de uma Oferta Pública de Aquisição (OPA), mas...
— Como é que isto se compatibiliza na tua vida, pá, De Caralho?!
— É fácil, Santa Puta. A Ordem dos Advogados garante que eu não violo qualquer regra deontológica por acumular mais de duas dezenas de cargos em empresas, entre elas a Controlinveste que detenho, o DN ou o JN, com o meu escritório de advogados. Preside à Controlinveste Conteúdos, cujo grupo é accionista da PT, empresa que os franceses da Altice querem agora comprar, numa operação que está a ser apoiada pela minha sociedade, coisa que já confirmei ao teu adorado Correio da Manhã: Não estou nessas empresas como advogado e, portanto, não há incompatibilidade”, como frisou ao SOL o presidente de distrital de Lisboa da Ordem, José Carlos Martins, acrescentando que o que o estatuto dos advogados proíbe é que um jurista represente interesses opostos.
— Mas isso é fabuloso...
— O facto de eu, Proeza do Caralho estar a representar o grupo francês Altice, que manifestou interesse na compra da PT, e já ter presidido à concorrente Zon (a nova NOS) não é impedimento para exercer a profissão, mas está-me vedado, por exemplo, o exercício de cargos políticos e autárquicos, bem como o de assessores ou secretários de órgãos de soberania. A excepção é o cargo de deputado, que um advogado pode exercer em simultâneo com a profissão. Eu, que sou sócio-presidente da Uría Menéndez - Proeza do Caralho, sou também presidente da Cimpor - Cimentos de Portugal e presidente da assembleia geral de várias empresas, como a Galp Energia, SGPS, a Socitrel ou a Renova.
— Enfim, Proeza do Caralho, és um príncipe.
— E agora temos de lutar a partir da prisão e dos nossos Media contra esta legislatura de pura violência sádica sobre os portugueses, Santa Puta. Uma legislatura de um verdadeiro assassínio de todas as regalias sociais conquistadas a pulso pelos portugueses ao longo de quatro décadas. 
— Uma legislatura da direita mais reacionária instalada no poder, e, para a qual, muito contribuíram o analfabetismo politico e educacional vindo do Salazarismo, acompanhado do oportunismo de partidos ditos de esquerda à esquerda do PS, Proeza de Caralho.
— Esse filhos da puta da Esquerda que resolveram trair o povo português em troca da manutenção das suas quintas politicas de compadrio sempre por explicar, e que, na prática, levou esta Direita mais ordinária - politicamente falando-, a destruir tudo o que florescia de liberdade e vivencia social, Santa Puta, Detrito 44. 
— É tristeo, Proeza do Caralho, que todos estejamos metidos numa camisa-de-forças dificilmente transponível, dadas as consequências de políticas irresponsáveis, feitas por lacaios sem espinha dorsal, curvados aos grandes interesses do capitalismo sem rosto e necrófago da miséria que sujeitam povos e nações à humilhação social. 
— Sem dúvida, Santa Puta. Uma legislatura do engano pelo engano, da traição constante ao que prometeram a quem neles votou, do desmantelamento da maior instituição de uma Nação, que é o Estado. Uma legislatura de atropelos propositado às normas constitucionais, subvertendo-as, as quais, juraram fidelidade democrática no cumprimento nas suas responsabilidades de governação. 
— Repara, Proeza de Caralho, que é uma legislatura com ministros a insultar os seus adversários no modo mais soez no parlamento ou fora dele. Enfim, tudo isto com a permissão comprometida de um Presidente da Republica que se demitiu de o ser. Estamos condenados, porque nos deixamos condenar passivamente. 
— Tu, na prisão, Detrito, tão bom para o povo, enquanto a violência pura e dura sobre um povo que se demitiu de defender um Estado Democrático levando esta Direita irascível ao poder.

E foi assim que o Detrito 44 imaginou um farto diálogo com o seu amigo Proeza do Caralho, dentro da cela de Évora, onde congemina cartas a vermelho, entrevistas canhestras, e enormes passes coléricos para cima do seu advogado AraSujo que depois verte e retalia o sarro em cima de jornalistas fornecedores de cigarros.

Comments

JFrade said…
TENHO SAUDADES DOS POSTES DIÁRIOS E ÚNICOS DESTE BLOGUE. NÃO DESISTAS. O FACEBOOK NÃO SUBSTITUI UM BOM BLOGUE.
JFRADE

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