DILMA ROUSSEFF OU A MATRIX BRASILEIRA

O que é que se passa no Brasil? Basicamente, o despertar de uma certa autoconsciência que converge em protestos pelas razões de sempre. Não há só alguma assimetria na distribuição da riqueza, mas tudo ali é simétrico, sendo dê por onde der. E não vale a pena a Presidência tentar distribuir demasiado o âmbito e os alvos do protesto. A corrupção é a marca de água do Regime. A figura da Presidente brasileira, Dilma Rousseff, está danificada irremediavelmente pelo curso habitual trilhado pela impunidade. A construção dos estádios para o Mundial de futebol de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 teria de sofrer as derrapagens escandalosas da praxe, o que só se torna chocante quando se pondera as enormes carências e falta de qualidade na Saúde Pública, espectáculo quotidiano de negligência e descaso. Assim, o Governo dormente de Dilma dificilmente mudará o que não mudou nem moralizou até aqui, bem pelo contrário. As vozes pela mudança e a pressão social já não suportam a ambivalência das instituições e a sua enorme permeabilidade ao abuso. Por isso veremos o Rio de Janeiro, São Paulo e a maior parte das capitais estaduais envolvidas num protesto ao qual já só falta um Memorando de Exigências que acorde políticos desfocados como Geraldo Alckmin. Uma sociedade onde o preço das coisas é altíssimo, em que se tolera a má qualidade dos serviços públicos, a corrupção, os limites que a juventude enfrenta na concretização dos seus sonhos, lá como cá, um sentimento apartidário e sem ideologia senão o grande sentimento de mal-estar e de aviltamento pelo seu mundo ao contrário. Se há uma revolução cívica no Brasil, constante e tenaz, ela é filha do Facebook na congregação e autoconsciência das pessoas.   É o direito à indignação com o qual Rousseff tenta lidar com a melhor face e bonomia possíveis até porque todos os governos mundiais aprendem com os erros e o sangue vertido noutras manifestações e noutros Países. Mas o protesto não chega. Se ele terminar e nada mudar, foi tempo perdido e espectáculo substitutivo da novela das sete. O cansaço é com o cinismo do Partido dos Trabalhadores, com a construção inflacionada e repleta de derrapagens corruptas dos estádios do Mundial de futebol por contraste com a realidade terceiro-mundista dos hospitais públicos miseráveis, onde faltam profissionais e todos os recursos que dignifiquem os cidadãos. Não é mais tolerável que só um estádio, como o do Maracanã, ter sido alvo de grandes obras de reconstrução no valor de 345 milhões de euros e nada de equivalente se faça nos equipamentos de Saúde ou da Educação. Não é mais tolerável que o interesse das imobiliárias ansiosas por novas áreas para construir terraplanem e expropriem o simples cidadão mudado para qualquer lugar medíocre, como acontece na vila Autódromo, na zona ocidental, lugar da futura Aldeia Olímpica. Bastou o rastilho do aumento do preço dos autocarros em São Paulo, num sistema com veículos que são os mesmos desde há quase uma década. O paradoxo brasileiro é, portanto, chocante e terrível. Resta saber se esta espécie de acordar cívico, com todos os riscos de apropriação pelos saqueadores e violentos, terá consequências palpáveis ou morrerá na mais completa inconsequência. Repare-se que o facto de algumas cidades estaduais anunciarem um recuo nos preços dos transportes, isso já não tem qualquer peso dissuasor. Dilma, que há dias veio mostrar toda a sua altivez despreziva para com o minúsculo Portugal na sua cabeça, em pleno dia 10 de Junho, está no olho do furacão. É ela precisamente o alvo simbólico dos protestos que deflagram nas cidades e pouco ou nada a salva da detracção e do cansaço de todo um Povo sem Esquerda e sem Direita. Se foi capaz de desprezar oficialmente o Dia de Portugal e, portanto, os Portugueses, e, portanto, Portugal, ninguém estranhará que despreze o Nordeste Brasileiro como País à parte do Sul próspero e rico, ou que despreze cidadão imbecil que espera seis horas agonizando num hospital público. O que toda a gente/todo o mundo percebe que Dilma, face visível da Matrix brasileira, já abriu as pernas aos milhões que enchem os bolsos das construtoras e dos interesses instalados graças às exorbitantes derrapagens corruptas. Lá como cá, a arrogância da Esquerda, a corrupção da Esquerda, a impunidade da Esquerda, o grande biombo da gula e do abuso com que se fazem milhões para gastar em Paris.

Comments

Jim Pereira said…
Muito bom, meu caro!
Tomei a liberdade de republicá-lo no "Cão que fuma".
Obrigado!
Abração./-
José Domingos said…
Assino por baixo.
Cumprimentos

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