OSGA MASCARENHAS

«Este início de Agosto tem sido animado por um artigo que Oscar Mascarenhas escreveu no DN, intitulado “Poiares Maduro e Lomba são tão-somente o fascismo a bater-nos ao de leve à porta”. Muita gente criticou o tom desbragado do texto e questionou se um provedor dos leitores deveria utilizar a sua coluna semanal para se atirar ao Governo. Tendo em conta que este espaço se chama O respeitinho não é bonito, ficar-me-ia mal estar a chatear o Oscar por ter sido indelicado ou por ter extravasado as suas competências. Interessa-me muito mais chateá-lo por o seu texto não ter pés nem cabeça. Como muita gente sabe — e quem não sabe fica agora a saber — eu sou amigo do Pedro Lomba. Mas sendo eu colunista do PÚBLICO e ele o secretário de Estado responsável pelos briefings do Governo, faz parte do meu trabalho criticá-lo. E critico-o: aquilo que à partida poderia ser uma ideia louvável — melhorar a comunicação do Governo e clarificar temas substanciais — tornou-se um pesadelo para todos os envolvidos. Só que, João Miguel Tavares ao contrário daquilo que Oscar sugere no seu texto, a culpa não é da ideia dos briefings em si, por mais infeliz que tenha sido a explicação do on e do off — a culpa é de um governo que colecciona polémicas com a devoção com que um numismata colecciona moedas antigas. E assim, o que originalmente era uma série de encontros com a comunicação social para dar, segundo as palavras oficiais, “informação correcta e explicada” e aumentar a “transparência” do Governo transformou-se rapidamente, com o avolumar dos casos de swaps e das nomeações com inconsistências problemáticas, uma carreira de tiro a secretários de Estado, onde Pedro Lomba, até pelo seu papel recente de colunista e de crítico do Governo, não tem forma de se sair bem. A este ritmo, todas as semanas vai ser possível aos jornais e aos blogues brincarem ao vejam-o-que-ele-diz-e-comparem-com-o-que-ele-dizia — e por isso, mantê-lo no papel de punching bag mediático é uma crueldade imerecida. Se Poiares Maduro é tão inteligente como se diz, já o devia ter percebido. E é porque as coisas são tão evidentemente assim que o tão popular texto de Oscar Mascarenhas não tem os tais pés nem a tal cabeça. O provedor dos leitores do DN escreve um longo artigo para alegadamente defender que os briefings do Governo são um atentado à democracia quando o que eles estão a ser, isso sim, é um atentado à credibilidade de todos os que se sentam àquela mesa de mogno com o símbolo da República. Sim, “estamos a viver tempos perigosos”, mas como Oscar Mascarenhas bem sabe, e com certeza já terá testemunhado, tendo em conta os anos que leva como jornalista, o perigo não está no que é feito debaixo da luz dos holofotes — está no que é feito nas sombras dos escritórios, dos corredores, das lojas, dos cafés da Avenida de Roma e até das redacções. Por isso, ao contrário do que alguns querem fazer parecer, o artigo do Oscar não é uma corajosa defesa da liberdade de imprensa, atitude que teria sido infinitamente mais útil durante a vigência do anterior Governo, que atacou a comunicação social como nenhum outro após o 25 de Abril. É apenas um texto armado com cartuchos de zagalote para enfrentar uma questão do tamanho de um pardalito. Se Oscar acha que estes briefings género hara-kiri são o fascismo a entrar “de esguelha”, receio bem que não consiga pegar o verdadeiro fascismo pelos cornos se algum dia ele vier bufar mesmo à frente do seu nariz.» João Miguel Tavares, in Público, 08 de Agosto, 2013

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