AUTO DA PORCA DO REGIME XI

[As Aventuras do Santa Alcoveta]

SóCrash, o grande candidato a todas as candidaturas impossíveis do favor popular, o grande monte de verborreia de mentir, o carisma negativo da mitomania e da charla política na História de Portugal, teve uma ideia presidencial. Algo genialmente inovador germinou-lhe na mona. Se o Rato não o quer por perto nem o quer como candidato presidencial para 2016, imaginou que poderia avançar alguém que, não sendo ele, fosse quase como se fosse ele. Carlos César. «Que tal, calhordas do Corporações?!» — esganiçara o Santa Puta em plenas catacumbas ultrassocialistas, o bunker do Rato. Os Calhordas estacaram e ensaiaram uma resposta. Foi assim que se iniciou um esplendoroso debate sem ataques pessoais entre o Santa Alcoveta e os Calhordas do Corporações e que haveria de ficar nos anais da debatologia nacional.

— Calhordas, é o que vos digo. Caso Guterres não queira concorrer nas presidenciais de 2016, o melhor candidato, excluindo eu mesmo, passa a ser Carlos César.
— Mas, ó Santa Puta, nada sabemos da disposição de Guterres. O que sabemos é da disposição favorável a Guterres do teu Gajo, o Costa.
— O meu Gajo, o Costa, anda entretido a afastar-se de mim, a criar taxas para turistas na Capital, a fazer uma recolha de economistas e a ter trocas de palavras com o Maduro. Ouvi-o dizer que apoiava António Guterres como candidato à Presidência. Empalideci de raiva.

— Sim, Santa Puta. Nós também espumamos de raiva por amor de ti.
— Calhordas, Guterres é um fraco. Demitiu-se em plena fulguração da minha rapina, quando os meus negócios e as comissões com o Euro 2004, mesmo o Fripór estavam a bombar, estupendamente encaminhados e sob o grande biombo santificador da Governação.
— ... Que ele destapou, abrindo caminho à Direita Decadente.

— Precisamente, Calhordas.
— Santa Puta, por que é que dizes «Fripór» e não «Freeport»?
— É uma palavra inglesa, Calhordas.
— E por que é que disseste na RTP, no último Domingo, dia 9 de Novembro, «Rio Fór» em vez de «Rio Forte»?
— É em estrangeiro, caralho, Calhordas, pá! Será que um líder carismático e visionário não pode pronunciar palavras em estrangeiro?! Não admito os vossos remoques.
— Não sabemos, Santa Puta. Soam a parolo. Admite que quando falaste em inglês e em castelhano em público foi das coisas mais tristes e hilariantes que já fizeste.
— Já sabem que nunca admito ter feito merda e, se faço merda, é porque a comissão vale a pena.

— Mas relativamente a Carlos César, ele também um Gajo teu, Santa Puta. E todos os teus Gajos, o Costa, o César, pagam uma factura pesada por serem... Teus.
— Não me fodam, Calhordas. Vejam que bem que Portugal ficaria com um açoriano como Presidente da República, olá!
— Pois, Santa Puta, mas se fosses tu e nós a decidir dos destinos do mundo, tu, Santa Puta, como candidato às presidenciais em 2016, serias a receita de que a política nacional precisava para voltar à vida. E, ganhando, esse ficaria como o maior castigo que Cavaco poderia sofrer.

— Bem verdade, Calhordas. Felizmente, não vejo nenhuma mulher como potencial candidata na área da Esquerda, embora deteste mulheres. Diz muito do País, mas talvez ainda mais da esquerda... Não haver mulheres que se candidatem. Mas só para ver Cavaco, no galarim mais alto do protocolo em plena AR, a tremelicar roxo de ressentido, obrigado a entregar-me a faixa de Presidente valia a pena que fosse eu e o Valupi a decidirmos os destinos de mundo.

— Santa Puta, quem é esse Valupi? É ainda mais anónimo que a gente...
— Que pergunta, Calhordas!... Valupi é... é um Calhorda como vocês... Um filho da puta... um filho da mãe... ele não gosta que lhe chamem «filho da puta» expressão que, não sei bem porquê, leva à letra... Não é um Gajo do Norte...
— É dos nossos, Santa Puta, nós sabemos, mas é um tipo muita estranho, pá, SóCrash.
— Não, Calhordas. É só um Gajo que me ama e me defende em modo intelectual intrincado. Faz espavento teórico de Esquerda, raciocina estrategicamente em meu favor. Insulta o Seguro. Afaga os movimentos teoricamente de Extrema-Esquerda que hão-de esvaziar o Burloque e o PCP em favor do nosso PS. É um Gajo que é meu. Mais um.
— Foda-se, Santa Puta. Tu tens mais gajos que sei lá quem...
— Sim, Calhordas, tenho muitos gajos. Imensos gajos...
— Por enquanto...
— Não, Calhordas. Pelo tempo que eu quiser... Tenho o meu Gajo, o Costa. Tenho o meu Gajo, o Proença de Carvalho. Tenho o meu Gajo, o Pinto BoyInteiro. Tenho o meu Gajo, o Noronha Vozinha d'Hélio. Tenho o meu Gajo, o Valupi, que ninguém sabe quem é e muito dizem que é o filho da mãe e do grande vulto da Direita, Francisco Lucas Pires... Tenho os meus Gajos, o Pedro Marques Lopes e o Pedro Adão e o Paulo Querido. Tenho o meu Gajo, o Júdice, um dos gajos mais entusiastas e mais patetas que eu tenho.

— Nós compreendemos, Santa Puta. E tu, não és ou eras o Gajo de ninguém?!
— Fui, era o Gajo do Salgalhado, Calhordas. Mas o Salgalhado também era, foi o meu Gajo, pá.
— Ah! Fantástico, Santa Puta.
— Todos os meus Gajos me apoiariam numa candidatura a Presidente da República. Portugal e os portugueses mereciam ver a faixa passar de presidente para mim, Presidente. E vamos ver se o meio ambiente político, no decorrer do ano que falta, ainda não vai a tempo de criar as condições possíveis para vermos as máquinas meu Gajo, o Costa, e eu próprio em plena campanha a desfazer em pó a narrativa pantomineira impingida ao povo pelos estarolas mentirosos da Direita Decadente.
— Claro, Santa Puta, e olha que contra o Santana ou o Durão, as chances seriam possibilidades e as possibilidades quase certezas. O Povo não é parvo como eles pensam e sobretudo não gosta de ser enganado, levado, vigarizado por quem se arma em gente fina para enganar gente honesta de mãos calejadas do trabalho duro.
— Espero que não estejam a ser irónicos, Calhordas. Essa de que o Povo não é parvo... todos nós sabemos que o Povo é parvo e que nos especializamos em capitalizar a nosso favor a extrema indigência mental e parvoíce do Povo Parvo. Um Povo Parvo vota em nós, socialistas. Vota em Nicolás Maduro. Vota em Fidel, ahahahaha. Vota em Kirchner e em Dilma. Depois se há Bancarrotas, culpa-se a Direita e a elite de São Paulo.
— Claro, Santa Puta. O que queríamos dizer é que o Povo não é parvo com a Direita Decadente, mas é Parvo com o Socialismo Bancarrotista e Desgracista. Por isso, vai voltar a escolher-nos, em 2015.

— Está melhor, Calhordas. Tenho umas dúvidas vagas se não será prematuro atirar-me e declarar-me candidato. Há riscos. Já quanto a César, pá, sem hesitações!
— Pá, Santa Puta, se tu não vais a ela. Fazes bem. Não estou a ver um PR sem primeira dama. Portanto, o Santana, ou tu, Santa Puta, ou o Marcelo estão descartados. César? Até podia ser. Mas nós preferíamos Sampaio, o da Nóvoa.
— Pá, Calhordas, enfastia-me que o candidato não seja eu. É certo que mesmo com este Sampaio, ainda veríamos Cavaco a tremelicar na passagem da fita. O infeliz não sabe como chegou aonde chegou e por isso também não percebe por que é apeado…
— Apeado, Santa Puta?!
— É uma forma de falar, pá, Calhordas. A gente, nós, somos de Esquerda. De facto, um País com rédeas matriarcais sem ser, cruzes canhoto, feminista e sexista era um excelente indício de saúde na Cidade, visto que a mulher é fonte de inteligências inalcançáveis pelo homem...
— Mas, Santa Puta, tu não gostas de mulheres.
— 'Tá bem. Pois não. Mas pronto, nada me impede de fantasiar-me vestido de gaja, a presidir matriacalmente ao País. Também me sinto uma fonte de inteligências inalcançáveis pelo homem comum...

— Santa Puta, és assustador. Travestido? Um filme de terror. Olha que água fresca era mesmo manchar a reputação dos porcos da Direita. Guterres encheu o saco. Quem sabe se César não é mesmo o melhor candidato possível?!  eheheh… Já 'tamos a ver o César a disputar o estatuto do Continente à vagalidade presidôncial com Zé Manel da Grã-Cruz Deserção Patriótica. Vai ser uma campanha e pêras.

— Calhordas, calai e aprendei. Como candidato à presidência, eu é que seria muito bom. Seria como uma lição da História à história encantada que nos conta a Direita. Mas a verdade é que sou um executivo por excelência e acho que não me adaptaria ao cargo.
— Temos pena, Santa Puta. Recordemos que Guterres já conhece a ONU, é um dos seus ministros e ficaria melhor como Secretário Geral da dita. Carlos César pode ser uma boa solução e faria um bom lugar, mas a nossa opinião calhorda vai pelo no Sampaio, o da Nóvoa.
— Deixem-se de idiotices, Calhordas. o Sampaio da Nódoa ainda se convence que é candidato pelo PS e quando descobrir que não é, oferece-se para mandatário do Barroso 2016.

Neste momento, a interessante conversa é interrompida pelo Padrinho, Don Marioleone, que entretanto introduzido nas Catacumbas do Rato por uma das passagens secretas, uma sanita de ouro com manípulo de marfim, resolve opinar a rasgar na candente questão, ele que é especialista em candidaturas serôdias e a destempo:

— Vocês, Calhordas, e tu, Santa Puta, não estão a ver bem o problema. Essa é uma ideia espectacularmente idiota. Como se não bastassem os intelectualmente balofos Pluvioso Costa e Ferro-aos-Papéis, ainda querem impingir-nos o César a presidente?! Tenham juízo. A Direita vai começar a dizer que assim emergem os cadáveres de estimação do PS que se pensava tinham-se decomposto para sempre.
— Sim, mas o que é que o Padrinho propõe? — sussurraram a uma só voz o Santa Puta e os seus Calhordas Corporativos.

Don Marioleone, agastado e com evidente défice medicamentoso, exclamou:

— Que triste PS este, que falta de visão e de coragem. Vómito-me para cima deste PS completamente alinhado. É a mim que deveriam indigitar candidato, caralho, pá. Estão a olhar para o candidato por excelência. Eu. Representante da geriatria política nacional cujo fulgor reformista está à vista, nos últimos anos. Eu sou de Esquerda. Eu fiz a Aula Magna. Eu engoli o Sapo do Alegre. Eu apareço ao lado do Freitas do Amerdeiral e do Pacheco Pereira. Eu!
— O Padrinho? Outra vez?
— Sim, Santa Puta. Claro que sim. Comigo a candidato, Cavaco ia directo para o hospital, Passos emigrava para Marrocos e Durão Barroso ficava no iate. Gostava de ver isso!

— É uma questão prematura, Padrinho. Primeiro o nosso PS tem de esmagar a maioria e obter o melhor resultado! Depois, pensamos no candidato do nosso PS. E agasalhe-se que está frio. Se não fosse eu, SóCrash, o Santa Puta, e o Padrinho a lançarmos juntos este assunto, mais parecia uma casca de banana lançada pelas arrastadeiras do sem abrigo Maduro!
— Quem, o da Venezuela? — questiona o vetusto fóssil da rapacidade extrema do Regime.
— Não, o dos Assuntos Parlamentares e dos Fundos Europeus. — esclareceu prontamente SóCrash.
— Se nos permitem, nós, Calhordas Anónimos do Corporações, pensamos que não nos devemos esquecer das vacas dos Açores que se riram muito para o Cavaco. Se o Cherne for o candidato da Direita, tu, Santa Puta, se calhar não és má ideia. Não desfazendo o Padrinho, Padrinho. Por para muitos parecer inverossímil, é que tu, Santa Puta, serias uma boa, uma excelente!, ideia. O Ladrão Barroso até borrava a cueca.

Entretanto, a hora de almoço aproximava-se e o Santa Puta, paternal, acercou-se de Don Marioleone, mimando-o com palavras sonsas:

— Padrinho Don Marioleone, ainda bem que veio enriquecer o nosso debate interno sem ataques pessoais... Eu já lhe falei do meu PEC IV? Pois então...

E foi assim que correu para o respectivo desfecho este excepcional debate interno do PS. A pouco e pouco, aquelas vozes estrepitosas e estrídulas foram serenando e dispersando nas catacumbas do Rato e cada qual, os calhordas do Corporações, o Santa Puta e Don Marioleone, puseram-se no respectivo caralho, para descanso do incansável escriba, este que vos cumula de literatura e realística ficção.

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