PASSOS E FIDEL

Passos e Fidel têm em comum o auto-entretenimento em habilidades discursivas, prolongadas no tempo, para audiências encurraladas. Fazem-no sem papéis. Que a dejecção oral durasse para lá do sono e do interesse humanamente suportável pelos demais relevou um vector sádico em Fidel e começa a ser visto como vício doutrinário que sodomiza psiques em Passos. A longevidade de Fidel não o canoniza nem absolve de uma série de crimes e intolerâncias só possíveis sob a religião de Estado “comunismo”, quando o comunismo, na defesa dos seus dogmas, era muito mais mortífero que muitas ditaduras de Direita somadas. Adiante. Ora, Passos, que vai tendo cada vez menos cabelo, além de improvisar imperdoavelmente durante uma hora ou mais, vitimando as mais variadas audiências, diz umas coisas que geram nos Socialistas mais viscerais e na Esquerda mais guardiã do templo um tipo de rasgar de vestes que merece tese ou divã, uma reactividade exagerada, muito própria do mais fanático dos mullah. Se o Das Kapital já quase não é citado nem googleado e a Bíblia perde foros de best-seller, por que motivo há-de ser poupada à crítica e à blasfémia a Constituição da República Portuguesa, um texto desdentado e datado, Corão que pouco nos rege e pouco nos guia?! E por que motivo os juízes que presuntivamente velam por ela, colocados pelos partidos e partidarizadores do que ajuízam, não podem ser objecto de contraditório?! Passos acha que nos salvamos de grossos problemas se for mais fácil, se for enfim possível!, pagar o que devemos aos alemães, se a despesa pública baixar consideravelmente. Os juízes do paço Ratton acham que isso de despedir ou baixar ou cortar, no Estado, tem de fiar mais fino, mesmo que não se saiba com que dinheiro ou com que desigualdade crassa cavada entre o trabalho garantista público e o privado. Brincamos? Poderiam, pelo menos, Ratton e Governo, pôr-se de acordo no essencial: como impedir a falência do País? Como evitar um segundo resgate? Como impedir um caldo de circunstâncias que agrave tudo para todos? A Política, arte do possível, falha, sempre que a linguagem corporativa se sobrepõe aos interesses da maioria, encurralando-a nos seus óbices formalistas. Ora, há um incêndio para apagar. Chama-se dívida. Foi feita. Tem de ser paga. Para ajudar a pagá-la, também se deveria vasculhar os bolsos ilícitos e ilegítimos do enriquecimento desonesto pela política e pelo conluio política-banca. A esses dá-se-lhes antena na RTP e impunidade por atacado.

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