BOM DIA, MEU ANJO, BOM DIA, BICHANECA
Teatro - Luxembourg - Bobino - Music hall - Século XIX (França) |
Hussonnet informou-te de que trabalhava nos jornais de modas
e fabricava reclamos para o Arte Industrial.
— De Jacques Arnoux — disseste.
— Conhece-o?
— Sim! Não!... Isto é, vi-o, encontrei-o.
Perguntaste desprendidamente a Hussonnet se, às vezes, via a mulher dele.
— De vez em quando — replicou o boémio.
Tu não ousaste prosseguir as tuas perguntas;
este homem acabava de tomar um lugar imenso na tua vida;
pagaste a conta do almoço,
sem que houvesse da parte do outro qualquer protesto.
A simpatia era mútua; trocaram as moradas,
e Hussonnet convidou-te cordialmente a acompanhá-lo até à rua de Fleurus.
Encontraram-se no meio do jardim quando o empregado de Arnoux,
contendo a respiração, distorceu o rosto numa careta abominável
e se pôs a imitar o galo.
Então todos os galos que havia nos arredores lhe responderam,
com cocorocós prolongados.
— É um sinal — disse Hussonnet.
Pararam perto do teatro Bobino,
em frente de uma casa onde se entrava através de uma álea.
Na lucarna de umas águas-furtadas,
entre chagas e ervilhas de cheiro,
mostrou-se uma mulher jovem, de cabeça descoberta,
em espartilho, e apoiando os dois braços contra o rebordo da goteira.
— Bom dia, meu anjo, bom dia, bichaneca — disse Hussonnet, atirando-lhe beijos.
Ele abriu a cancela com um pontapé, e desapareceu.
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