CONFRADES N'O ARTE INDUSTRIAL
Júpter e Io, Antonio da Correggio |
era um lugar de encontro cómodo,
um terreno neutro onde as rivalidades se acotovelavam familiarmente.
Lá se via, nesse dia, Anténor Braive, o retratista dos reis;
Jules Burrieu, que se começava a popularizar com os seus desenhos as guerras da Argélia;
o caricaturista Sombaz,
o escultor Vourdat,
outros ainda,
e nenhum correspondia aos preconceitos do estudante.
Os seus modos eram simples, as suas falas livres.
O místico Lovainas declamou um conto obsceno;
e o inventor da paisagem oriental, o famoso Dittmer,
usava uma camisola de lã por debaixo do colete,
e tomou o ónibus para se ir embora.
Tratou-se primeiro de uma tal Apolinie,
um antigo modelo, que Burrieu pretendia ter reconhecido no bulevar, numa caleche.
Hussonnet explicou esta metamorfose pela série dos seus «admiradores».
— Como este marau conhece as raparigas de Paris! — disse Arnoux.
— Depois do senhor, se ainda sobrarem ─ replicou o boémio,
com uma saudação militar,
para imitar o granadeiro a oferecer a sua cabeça a Napoleão.
Depois discutiram algumas telas,
em que a cabeça de Apolinie tinha servido.
Os confrades ausentes foram criticados.
Admiravam-se com o preço das suas obras;
e todos se lastimavam por não ganharem o bastante,
quando entrou um homem de estatura média,
a casaca abotoada num só botão,
os olhos vivos, o ar um tanto louco.
— Que data de burgueses vocês me saíram! — disse ele. — O que é que isso faz, misericórdia!
Os antigos que confeccionavam obras-primas
não se inquietavam com o milhão. Correggio, Murillo…
— Junte Pellerin — disse Sombaz.
Mas sem replicar ao epigrama,
continuou a discorrer com tanta veemência
que Arnoux foi obrigado a repetir-lhe duas vezes:
— A minha mulher precisa de si, Quinta-feira. Não esqueça!
Esta frase reconduziu o teu pensamento para a Senhora Arnoux.
Sem dúvida, penetravam em casa dela pelo gabinete perto do divã?
Arnoux, para pegar num lenço, acabava de abri-lo;
distinguias, ao fundo, um lavabo.
Mas uma espécie de resmungadela saiu pelo canto da chaminé;
era o personagem que lia o seu jornal, na poltrona.
Tinha cinco pés e nove polegadas,
as pálpebras um pouco descaídas,
o cabelo grisalho, o ar majestoso — e chamava-se Regimbart.
— De que se trata, Cidadão? ─ disse Arnoux.
— De mais uma canalhice do Governo!
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