Adeus, Luciferina Criptoscriptora

A ideia de que um amor, um amor bem forte, antigo, babado, feroz, espinhado, a varava, tornou-se-me evidente porque não a vi a saber parar, a rir até, por que não?! Por causas esgotadas e mortas pode parar-se imediatamente. Mas não por um homem velho, mas vivo, que arrebatou o coração de uma mulher há séculos e que há séculos por ele vive derreada de devoção.

Depois há coisas que um coração feminino (amargo e conformado com amarguras) não sabe fazer e é perdoar, ceder, recuar. Amando desmedidamente um homem, nada a pode segurar, ao vê-lo atacado, rinoceronte em marcha unicórnia de corrida.

Quando o amado apanhou o meu ferro, não interessa agora se jocoso, se justo ou injusto ferro, não se teve e, leoa experiente no bando e avançada nos anos, foi à luta, pronta a defendê-lo com unhas e dentes e lâminas. Mais uma vez mostrou amor. É isso: quando se encarniça contra os maus, os advogadosdodiabo, que maltratem o seu querido, o que ela mostra é isso. Amor. Se calhar o querido é seu marido. Por isso o ódio destilado tinha esse aroma desmedido e doido de cio, descontrolado.


Não há mesmo idade para amar caçadoramente com garra de águia ou Harpia (gavião-real ou uiraçu-verdadeiro) entre as ramagens amazónicas deste Desabafe Connosco, coutada de caça e predação dos fracos pelos fortes, dos errados pelos certos, dos mal escreventes e mal pensantes pelos bem as duas coisas. Isto é toda uma Faculdade de olhares pedantes e impiedosos no alto da mais suma sapiência e perfeição despreziva dos demais.

Luciferina, explosiva, armadilhou-se com quantas armas tinha e deu, como é seu estilo e timbre, uma no cravo e outra na ferradura porque, na hora de dar, acomete-a sempre uma íntima cegueira ciclópica e a bater é cega. Completamente bravia, cega e brava. É isso: femeamente brava, cega e bravia na hora de agredir, tomada de dores alheias.


Hieroglifando e criptografando palavras que se têm de ler duzentas vezes para delas se sacar sentido mínimo, surrou e zurrou e bramiu e espumou. Eu sei porque apanhei com ela para nunca mais.
Eu, que a vi de pau em riste por amor de um homem, apanhei com ela e com ele, com o pau das suas mãos, perdi os sentidos, caí inanimado da minha brincadeira abaixo.

Recobro agora mais forte. Ela, a Luciferina fêmea, tem o registo ilegível e perturbador dos animais selvagens e é toda uma outra maneira de ser Maria Ríspida e irracional, na hora do ataque por baixo.

Desse mau aspecto quero férias e distância para todo o sempre. Quem pode prezar um ninho de vespas mulher, uma olívia-palito despreziva dos mais puros espinhafres que a minha horta dá?!

Passei no teste.
Ela reprovou.


Joaquim Santos


Comments

Ana said…
O texto além de muito bem escrito (como sempre), tem também muito humor. Já se sabe que uma mulher quando ama, defende com unhas e dentes...e paus... e tudo o que tiver á mão, o seu amado. Algumas levam tudo na brincadeira mas outras levam tudo demasiado a sério. O que interessa é que ela reprovou no teste e tu segues em frente. Beijos
Anonymous said…
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