E Agora Uma Coisa Completamente Banal

Sair de casa. O telemóvel avariado, usado e abusado
até ao limite de vida das teclas e dos circuitos. Depois uma deslocação desalentadíssima
e arrastada a uma casa comercial
onde supostamente se venderia um equipamento igualzinho ao avariado,
mas não,
já não vendem, já só proporcionam assistência técnica,
mas cara como a OTA para um bolso tão oco como Portugal é oco bolso.


Sair de lá pesado e denso de chateado. Lembrar as mensagens de voz,
quatro, ontem, todas urgentes e todas seguidas, como um mundo a desabar de necessidade, ouvidas em telemóvel emprestado, dinossauricamente velho e feio, sem qualquer cor.

E amanhã uma nova batalha travada instantaneamente e onde a posição das peças no xadrez é que é arma, é que é gume.

E amanhã novamente a minha batalha desigual, prenhe de sonhos de libertação-liberdade sempre insatisfeitos, sempre incumpridos, sempre sujeitos ao gozo, à troça de um sistema sem rosto, que não é gente e não é nada:

eis-me de novo a enfrentar um monstro fugitivo e maleável feito de uma lógica inapreensível. Um sistema feito para me evitar e para me sitiar tão mais humilhantemente quanto mais e melhor o golpeio fundo.

Tenho sangrado, assim, como um touro bravo lidado e morto nas arenas de Espanha,

mas todas as vezes me levanto animoso, tal como os guerreiros nos videojogos, com mais vidas, com mais armas e os mesmos cornos, pronto a visar as cinturinhas efeminadas do sistema-toureiro.

De língua pendida, inundado de sangue e suor, soltando um borrifo de bafo rubro, sinto que a qualquer momento o perfurarei, ao monstro que me lida, no sítio do costume: de baixo para cima, num movimento em oito interrompido, entre o ânus e o cóxis, coito que não irei interromper enquanto salto e movimento ainda mais a cabeça saciada do encarnado perseguido, mas finalmente alcançado. Cenas velhas e repetidas que passam depois em câmera lenta.

Com poucos recursos se faz a minha luta, enquanto o sangue vai manando por entre as bandarilhas que como que se me cravam ainda mais na carne tão macerada, mas ela, a minha luta, é eficiente, perigosa, potente, por isso imediata e sofregamente esmagada pelo sistema como se da ameaça das ameaças se tratasse. Ser precisamente isso a sua fragilidade!!! Ser precisamente aí que eu o vença!!!

Seja! Seja! Seja!


Poderei, por fim, vencer?

Joaquim Santos

(Amanhã ou depois, não sei se poderei vencer. Só sei que tenho armas).




Comments

Night said…
Não fosse a vida uma eterna luta, banal? so mesmo o telemovel avariado...
Um abraço!
Anonymous said…
Really amazing! Useful information. All the best.
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