NA CAATINGA


Às vezes, um homem completamente telúrico,
ágil, ligado aos animais e aos seus ritmos, forte,
cheio de uma ancestralidade romana de vida da terra,
com a terra e pela terra,
só se encontrando a si mesmo de verdade
na verdade da sua Roça, da sua Villa,
pode ser precisamente o teu sogro.
~
Sob um noctilino céu tão sonho,
de lucilantes estrelas,
de negrejantes nebulosas e seus halos luzentes,
embrenhámo-nos uma destas noites,
toda uma longa noite,
na caatinga, território imenso, propriedade sua.
Botas, roupa militar,
eis-nos na mata cerrada, sentidos alerta.
Primeiro, breve travessia de canoa.
Os nossos dois cães, um com chocalho, correndo,
só perante caça lantindo ou ladrando.
E nós, no seu aleatório encalço,
correndo, subindo e descendo ladeiras,
abrindo por mato fechado,
o duro e incerto caminho de espinhos,
de galhos em teia, em rede,
da rasteira macambira cortante.
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Canino alarme! Corremos a toda a brida!
Logo um tamanduá se vê dos cães cercado.
É a primeira presa.
Morto, é deixado para recolher mais tarde
e seguimos porque o forte de esta caça é o tatu
ou, com muita sorte, o caititu.
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E este céu tão mágico, tão pleno!

Noite. Silêncio.
É preciso submergir em esta noite e em este silêncio
e seguir de ambos impregnado.
A cada célere passo, dois gritos expertos do caçador
à frente, como um guia.
Lanternas acesas na corrida.
Correr.
Estacar, lanternas apagadas.
Escutar.
Lá longe, o raro latido ou o chocalho sumido do nosso cão
incita-nos à correria mais sôfrega e serena.
Completo silêncio.
Sentar. Fumar. Correr. Parar. Escutar.
Fumar. Conversar.
çlk
Mas que céu sobredivino!
lkj
Pelo ouvido, chegamos desenfreados aos caninos:
acuados, acuaram um tatu.
Escava-se no trilho das suas luras sinuosas.
Primeiro tatu, dobrado trabalho.
É crianço, por isso, devolvido.
E será assim, neste ritmado suor,
até que o demorado sol nasça.
çlk
E os estremecimentos de um tatu vivo,
amarrado, insistindo em viver,
suspenso dos meus dedos...
E o odor às suas urinas nos meus dedos,
os seus olhos de inerme e misericoridiosa animalidade orelhuda,
e a sua couraça incouraçante,
e os pêlos do seu peito,
e o debater inconformado da sua cauda no meu braço,
e aquela gambá fedorenta
que caçámos na clareira do cimo de um morro,
com um odor afinal tão natural e intenso
como o da própria mata perfumada que desbravávamos.
lkjlkj
E um céu de que nunca pude tirar os olhos
e me lembrou o fundo cumprimento do que,
em aventura acamaradada e suor, vida inteira, e poalha,
eu tanto desejara
e me lembrou a dimensão espiritual integrada de tudo.

Comments

MARIA said…
Olá Joshua,

Então que tal, para a próxima vez, caçar uma simples lebrezinha e convidar os amigos blogosféricos para almoçar ?:)
Beijinho
Maria
André said…
olá. deixaste-me um comentário... em inglês... já conhecia o teu blog - até tenho um link para ti - abraço
Emrah ATİK said…
hi.
thinkyou for your message.
:))
Sei que existes said…
A foto está excelente!
Nunca consegui compreender muito bem quaquer tipo de caça que implique a morte de um ser vivo, por simples desporto...
Beijos

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