OBESOMETÁFORA


Quando reparei no gigantismo do teu rasgão,
no seu temível veludo de mata abandonada,
(estavas a pôr os meus wiskas no meu pratinho
e tinhas o teu cigarrinho-de-estar-em-casa-à-vontadinha)
assustei-me, quase morria pela terceira vez,
vidas ainda tenho cinco,
o pêlo arrepelou-se-me
e perdi o apetite.
lkj
Até aí, eu não tinha senão ambições de gato:
queria comer, dormir e caçar,
queria as bênçãos infinitas
de me lamber no final das tardes de Inverno,
sobre o muro, em posição felina de esfinge egípicia,
quando o sol se vai pondo muito a sul em promessas de Natal e restos sucolentos,
quando o meu povo se vai preparando para a Missa.
lkj
Queria copular até à fraqueza dos meus membros,
soltar este almíscar e preponderar sobre toda e qualquer fêmea,
lutar por cada uma com a ferocidade-sabre de um felino extinto,
na hora de copular desesperada e miante.
Até aí, eu era fanático por ser só isto.
lkj
Mas depois do que me mostraste, algo por dentro se me quebrou.
Agora perdi-me.
Sinto-me um Silvestre sem Piu-Piu...
Sinto-me em ruptura epistemológica.
Quero ser mais que gato.
Quero ser um gato-monge,
um monge ateu no claustro,
um monge crente no laboratório fervoroso.
Quero pregar Cristo aos fanáticos pela Razão.
Quero pregar a Razão aos fanáticos por Cristo.
Quero demolir Igrejas e fundar Repúblicas.
Quero canzanar Monarquias.
Quero derrubar altares e ler tratados de Física Quântica.
Quero fazer da Física Quântica novo altar para a esplendente força atractiva de Cristo.
Quero as unhas do insulto e as almofadas-sob-patas da sapiência.
Quero ser o Jacobino e o Inquisidor na mesma santa ferocidade, santo delito.
Quero presidir ao Comité Central e ao Sinédrio, beber um shot de Pentágono nos cornos.
Quero polemizar com todo o argumentário do meu agnosticismo.
Quero ronronar altercações e perder amigos com a violência do meu argumentário.
Quero afiar argumentos com os meus amigos-cobaia-dos-meus-argumentos afiados.
Quero ver apenas o lado político e ignorar o lado puramente espiritual.
Quero transformar-me naquilo que verbero.
Quero reverter-me no que abomino.
Quero transformar-me no outro.
Quero descer do zelo.
Quero ser gente.
Quero ser gato.

Comments

antonio ganhão said…
Solta o gato! Gostei da força deste teu texto. Infelizmente o que por aí há mais, são qatos Silvetre sem Piu Piu.
Anonymous said…
Bela prosa, coitado do gato, na sua principal visão.
quintarantino said…
Ops, de facto, a avaliar pelo gigantismo da dona adivinha-se a visão aterradora que haverá de ser a sua mata íntima...
quintarantino said…
Caro Joshua, você está linkado. Aliás, só podia.
Gostei dessa dos saúrios da palavra. Bem apanhada.
Daniel J Santos said…
Pode se dizer que se trata de um gato com uma grande visão dos acontecimentos.
Francisco Tovar said…
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Unknown said…
WICKED!
Papoila_Rubra said…
humm... texto muito interessante...

ffff....fffttt!.....

e de "assanhada" para "assanhado", posso garantir-te que é MUITO BOOMMMMM andar "assim" em casa, mesmo (já) não sendo "gata"...

roonn..ronnnn
miau...miaaau.....

nota: se não quiseres, não publiques o meu comentário, mas garanto-te que me diverti... :)
LUCHO LUNA said…
jaja, muy bueno. ademas l oque sale de la revista EL JUEVES dio vuelta al munndo, no saben cómo han ayudado a la revista a conseguir lectores.abrazos
LUCHO
nataliacorreia said…
ola joshua, como vê cá estou como prometido
Anonymous said…
Pelo que li, estás a ter a mesma ruptura epistemológica que o José Sócrates, o que pode ser perigoso, pelo menos para a tolerância e a liberdade de expressão...
Abraço,
ALM
zeta said…
Hmm,que agresivo... O-o

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