BICHAS À MESA

Sentir-me-ia simultaneamente indiferente e radiante se, no país em que passa a haver «same-sex marriage» chamado Portugal, houvesse sobretudo pão, prosperidade, perspectivas de futuro e agentes políticos credíveis, respeitadores do Povo a cujo serviço supostamente deveriam colocar-se. Mas não. O que nos põem à mesa é isto. Basicamente, vivemos sob uma espécie de Putsch gay, civilizacionalmente disforme, insidioso, arrebatando para a "modernidade" dissoluta e bafienta de todos os relativismos também o penduricalho do casamento, instituição perpetuamente em crise e perpetuamente fetiche, excepto numa acepção de sentido religioso que não é para todos. Abarbatar leis e telecomandar a sensibilidade geral está-lhe no sangue. No contexto actual tolerante para o qual toda a violência é intolerável, esta matéria não passa de espuma. Entre anúncios de fome, angústia social, dívidas públicas e privadas, acrescida canga fiscal recorde sobre os mais frágeis, com expressiva perda de rendimentos, o foco incide sobre entretenimentos imbecis, matérias marginais, assuntos estupidificadores. Nada a fazer quanto às bichanices e bichezas «fracturantes»: como luxo, pirraça e bizarria, elas são impostas por uma minoria entre as minorias. A julgar pelo perfil ditatorial e intolerante do PM, tudo o que se faz, faz-se à revelia da sensibilidade geral, mole e moldável com duas de letra. Impõe-se unilateralmente. Seja lá o que for, TGV, Bombas Solares como se fossem fotovoltaicas, petas de todo o tipo. Um dia destes, e talvez não tarde, promulga-se a morte a pedido. Acaba-se de escaqueirar a Caixa de Pandora para democratizar todos os interditos e subjectivizar toda e qualquer pulsão, mesmo a mais mortífera e contraditória. Quanto ao casamento gay, Cavaco o deu. Sôfrego por reeleição e mestre de toda a transigência e consensualismo putrescente, pactua com qualquer coisa desde que lhe não faça perigar a reeleição. Infelizmente o quadro completo resume-se nisto: «O Presidente da República veio utilizar um argumento económico numa questão que para a Igreja, para muitos portugueses e para ele próprio, pelo menos até ontem, era uma questão fundamental na forma como concebem a família, a sociedade e o direito que nos rege. E digo até ontem porque a partir do momento em que o Presidente da República preferiu contornar a legitimidade constitucional e democrática do veto político para evitar ser confrontado com uma decisão da Assembleia da República, que colocaria definitivamente em xeque a sua recandidatura, tornou mais clara a sua posição e os seus interesses.»

Comments

Grego said…
É o aborto, pá!
É o celibato, pá!
É o casa"gay"mento, pá!
É a eutanásia, pá!
É o preservativo, pá!
É a família, pá!
É a união de facto, pá!
É a mãe solteira, pá!
É o pai solteiro, pá!
É a missa do "jumbo", pá!
É o ateísmo, pá!
É o comunismo, pá!
É o niilismo, pá!
É o socratismo, pá!
É o benfiquismo, pá!
e o povo pá?!
e o povo pá?!
e o povo pá?!
...há mais de um século que vive num mundo novo, Pá!!!
joshua said…
Ehehe, está muito boa, Grego!
Deixa-me cá contrapor, "com todo o respeito que me mereces", pá.

É o loby gay, pá!
É o jacobino, pá!
É o mediático, pá!
É o aldrabão, pá!
É o cromossoma, pá!
É a miséria, pá!
É o desemprego, pá!
É a corrupção, pá!
É a fome, pá!
É a PAC, pá!
É o puritanismo, pá!
É o beatismo, pá!
É o absolutismo, pá!
É o nazismo, pá!
É o estalinismo, pá!
e o povo pá?!
e o povo pá?!
e o povo pá?!
... quer Verdade pra viver num século novo, Pá!!
Dylan said…
Ui, Joshua, acabaste de arranjar lenha para te queimares... Vais ter que levar com liberais de esquerda defensores da bandeira colorida.
Anonymous said…
Joshua, não sei quem você é mas para além do evidente talento literário você é pura e simplesmente o máximo e vem imediatamente após o Santo Padre na minha muito selecta lista de heróis pessoais!
Você põe em palavras tudo aquilo que me ferve dentro e não consigo expressar.
Desde a passada segunda feira à noite ontem, deixei de me rever nesta sociedade portuguesa em que vivo.
Enquanto não arrebentarem com tudo não descansam.
Mas como se trava esta erupção destruidora que se auto-intitula de liberal e progressista, iluminada e modernissima?
Francamente não sei.
Sabe, no dia 11 no Terreiro do Paço achei que eramos poucos. A sério, deviamos ter enchido a Rua Aurea a Rua Augusta, os Restauradores e a Avenida toda para eu achar que eramos suficientes para mostrar um bruto cartão vermelho a esta gente toda.
às vezes ponho-me a pensar, se não seremos verdadeiramente uma minoria e os fantasticos progressistas, de facto, a maioria.
Obrigada por estas suas mensagens que me fazem sorrir no meio do que, sinceramente, acho muito triste.
Virginia

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