OTRA SANGRE

Prova de que somos imensamente individualistas, por mais comprimidos sejamos contra a parede, e infra comunitários até à náusea temo-la aqui. À primeira calcadela, o povo espanhol repleta as ruas, grita, apostrofa, sangra e com esse sangue fervente atira-se às balas de borracha e aos enxertos de porrada. Nós, encafuados nos nossos buracos, à espera de um golpe de sorte ou de asa, de uma oportunidade para pelo menos poder comer, atrofiamo-nos como quem aguarda apenas que a procela passe. Há genética e aprendizagem nisto: décadas de delação e miséria organizada, após outras tantas décadas de miséria caótica a convidar ao risco de brasis e áfricas, determinaram que por aqui cada qual se desenrascasse como pudesse, saindo. Os que emigraram, emigrados estão. Só velhos, crianças e incapacitados de corpo ou espírito permanecem. Isto é outro sangue e outra História. É Portugal a entristecer.

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