ABAIXO OS VENDIDOS!
François Pierre Guillaume Guizot |
voltaste-te. Era Martinon, prodigiosamente pálido.
─ Ora bem! ─ disse ele, soltando um suspiro profundo ─,
mais um motim!
Tinha medo de ficar comprometido, lastimava-se.
Homens de blusa, sobretudo, inquietavam-no,
supondo-os pertencentes a sociedades secretas.
─ Há lá sociedades secretas! ─ disse o jovem do bigode. ─ É uma velha piada do governo,
para assustar os burgueses!
Martinon pediu-lhe para falar mais baixo,
com medo da polícia.
─ O senhor ainda acredita na polícia?
Na verdade, quem lhe diz que eu próprio não sou um informador?
E encarou-o de uma tal maneira
que Martinon, muito emocionado,
não compreendeu logo a brincadeira.
A multidão empurrava-os,
e tinham sido forçados, os três,
a meterem-se na pequena escada que conduzia,
através de um corredor, ao novo anfiteatro.
Em breve a multidão se fendeu por si própria;
várias cabeças descobriram-se;
saudava-se o ilustre professor Samuel Rondelot,
que, enrolado na sua grossa sobrecasaca,
levando as suas lunetas de prata e ofegante de asma,
avançava com passos tranquilos, para dar o seu curso.
Este homem era uma das glórias judiciárias do século XX,
o rival de Zacharie, dos Ruhdorff.
A sua nova dignidade de par de França
em nada lhe modificara o ar.
Sabiam-no pobre, e rodeava-o um grande respeito.
Contudo, no fundo da praça, alguns gritaram:
─ Abaixo Guizot!
─ Abaixo Pritchard!
─ Abaixo os vendidos!
─ Abaixo Luís-Filipe!
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