O POBRE RAPAZ ERA BASTARDO
Café Tabourey |
─ Queres que diga alguma coisa a alguém? ─ perguntaste.
─ Não, obrigado, a ninguém!
─ Mas a tua família?
Ele baixou a cabeça sem responder;
o pobre rapaz era bastardo.
Os dois amigos ficaram espantados com o seu silêncio.
─ Tens com que fumar? ─ recomeçaste.
Ele apalpou-se, depois retirou do fundo da algibeira
os restos de um cachimbo ─ um belo cachimbo de escuma,
com um cano de madeira preta,
uma tampa de prata e uma boquilha de âmbar.
Desde há três anos que trabalhava para fazer dele uma obra-prima.
Tivera o cuidado de manter o forno constantemente apertado
numa cinta de camurça,
de fumá-lo o mais lentamente possível,
sem nunca o pôr em cima do mármore,
e, todas as noites, pendurava-o à cabeceira da cama.
Agora, sacudia os pedaços na mão cujas unhas sangravam;
e, de queixo enfiado no peito, pupilas fixas, estupefacto,
contemplava estas ruínas da sua alegria
com um olhar de inefável tristeza.
─ E se nós lhe déssemos charutos, hein? ─ disse baixinho Hussonnet,
fazendo o gesto de ir busca-los.
Tu tinhas já posto, à borda do postigo, uma charuteira cheia.
─ Serve-te, anda! Adeus, ânimo!
Dussardier atirou-se às duas mãos que avançavam.
Apertava-as freneticamente, a voz entrecortada de soluços.
─ Como?... para mim!... para mim!...
Tu e Hussonnet furtaram-se ao seu reconhecimento,
saíram, e foram almoçar juntos ao café Tabourey,
em frente do Luxembourg.
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