OS AMOTINADOS

À medida que avançavam, a multidão tornava-se menos densa.
Os polícias, de vez em quando, voltavam com ar feroz;
e os amotinados, já não tendo mais nada que fazer,
e os curiosos mais nada para ver,
todos se afastaram a pouco e pouco.

Passantes com que se cruzavam,
encaravam Dussardier e entregavam-se em voz alta
a comentários ultrajantes.
Uma velha, à porta de casa exclamou até
que ele tinha roubado um pão;
esta injustiça aumentou a irritação dos dois amigos.

Por fim, chegaram à frente do corpo da guarda.
Apenas ficara uma vintena de pessoas.
A vista dos soldados bastou para dispersa-los.
Tu e o camarada reclamaram, atrevidamente,
a liberdade daquele que acabavam de meter na prisão.
O funcionário ameaçou, se insistissem, metê-los também lá a eles.

Perguntaram pelo chefe de posto,
e declinaram os seus nomes
com as suas qualidades de alunos de Direito,
afirmando que o prisioneiro era seu condiscípulo.
Mandaram-nos entrar para uma sala completamente vazia,
onde quatro bancos se alinhavam contra as paredes de estuque, enegrecidas.
Ao fundo, abriu-se um postigo.
Apareceu então a cara robusta de Dussardier,
que, no desalinho do cabelo,
lembrava confusamente a fisionomia de um bom cão.

─ Então tu não nos reconheces? ─ disse Hussonnet.
Era este o nome do jovem de bigode.
─ Mas… ─ Balbuciou Dussardier.
─ Não continues a fazer de parvo ─ recomeçou o outro ─; sabes que és,
como nós, aluno de Direito.

Apesar das suas piscadelas de olho,
Dussardier não compreendia nada.
Pareceu recolher-se; depois, de repente:
─ Encontraram a minha caixa de cartão?
Tu ergueste os olhos, desencorajado.
Hussonnet replicou:
─ Ah!, a caixa de cartão, onde metes os teus apontamentos do curso?
Sim, sim, fica descansado! Redobravam a pantomima.
Dussardier compreendeu, enfim, que vinham ajudá-lo.
E calou-se, receando compromete-los.
Aliás, sentia uma espécie de vergonha
ao ver-se elevado à classe social de estudante
e ao nível daqueles jovens que tinham mãos tão brancas.

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