BANDIDO, ASSASSINO, AMOTINADOR!
Estudantes e polícia confrontam-se do lado de fora da Faculdade de Justiça, Paris. |
dizendo o mais baixinho que podiam:
─ Partam, cavalheiros, partam, retirem-se!
Alguém gritou:
─ Abaixo os espancadores!
Era uma injúria usual desde as perturbações do mês de Setembro.
Todos a repetiram. Apupavam, assobiavam os guardas da ordem pública;
eles começavam a empalidecer;
um não pôde resistir,
e, atentando num jovem baixote que se aproximara de mais,
rindo-lhe na cara, afastou-o tão rudemente
que o fez cair cinco passos mais longe, de costas,
em frente da loja do vendedor de vinho.
Todos se afastaram; mas, quase de seguida,
ele próprio rebolou, derrubado por uma espécie de Hércules
cujo cabelo, tal como um pacote de estopa,
transbordava sob um boné de oleado.
Parado há alguns minutos na esquina da rua Saint-Jacques,
tinha largado uma grande caixa de cartão
que transportava para se atirar ao polícia
e, mantendo-o deitado debaixo de si,
atingia-lhe a cara com socos enormes.
Os outros polícias acorreram.
O terrível mocetão era tão forte que foram precisos quatro,
pelo menos, para o dominar.
Dois sacudiam-no pelo colete,
dois outros puxavam-no pelos braços,
um quinto dava-lhe com o joelho, encontrões nos rins,
e todos lhe chamavam bandido, assassino, amotinador.
O peito nu e o fato em farrapos,
ele protestava a sua inocência;
não pudera manter o sangue-frio ao ver bater numa criança.
─ Chamo-me Dussardier!, da loja dos Srs. Valinçart irmãos,
rendas e novidades, rua de Cléry.
Onde está a minha caixa? Quero a minha caixa!
Repetia:
─ Dussardier!... rua de Cléry. A minha caixa!
No entanto acalmou-se, e com um ar estóico,
deixou-se levar para o posto da rua Descartes.
Uma onda de gente seguiu-o. Tu e o jovem de bigode
caminhavam imediatamente atrás,
cheios de admiração pelo moço de recados
e revoltados contra a violência do Poder.
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