Eclipse
Às vezes, o inferno é o silêncio dos outros,
o modo como se fecham e te fecham a porta do que sentem realmente
dando-te a facada da fachada, a mentira do sorriso convencional.
Às vezes, a desilusão é um vinho que se toma
e nos tomba de garrafa vazia, nas lages da rua, no teu jardim,
e o nosso ridículo, esse ridículo, é o olhar maligno, prenhe de inveja, falso
com que visas envolver-me e aprisionar-me na tua opinião de mim,
minhoca que revolve a terra,
a devora, e a defeca ou regurgita melhorada
para que melhor eu te apodreça nela.
Às vezes, não me venham falar em amizade.
Falem-me de frieza, maledicência,
confusão e solidão.
Falem-me de ignorância bestial do que somos, lá,
onde por fora se vêem exuberantes sorrisos e abraços,
desde o «Então, 'tá tudo?!» ao «Até logo!».
Às vezes, toda a fome se resume
em finalmente conversar e desabafar
como quem limpa os olhos
após um longo eclipse dos afectos
por doentes preconceitos
e erróneas opiniões.
Joaquim Santos
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