POLÍGONO VACA
Ó vacas científicas,
vacas sensíveis, encurraladas nessa liberdade
de pastar um pasto farto e verde!
Vacas, amigas, vamos olhar o Comos! Juntos.
Vacas fraternas, científicas,
de bosta aqui e ali quente, fumegante,
odorosa, fecunda,
honesta e sinceramente odorosa,
como sois justas, de grandes olhos, de caudas giratórias,
anti-mosquedo,
e tendes o automóvel,
e tendes o telescópio,
a paisagem serena,
e estais à chuva,
ao sol,
e podeis espreitar,
e podeis cheirar.
Vinde, fraternizemos!
Ó vacas outras merdanistras,
sardoniscas,
putas, cínicas, sérias, funéreas,
ministras,
vacas responsáveis, educativas,
sub-secretariais, negociais, estatutárias,
vacas de pose hirta e voz metálica,
vacas sentadas, ruminando decisões,
fingindo atender súplicas, indignações,
mas bem a cagar d'alto a bosta poderosa
para quem sofre e se afadiga as concretas situações,
vacas pomposas no mediático das TV’s chocalho,
vacas mentirosas, falsas, comó caralho!
Vacas a gerir metódicas, meticulosas a gerir,
sádicas a gerir como os doutores de Birknau
entre injecções, Monóxido de Carbono e Zyklon B
porque o que tem de ser tem muita força,
embora irracional, criminoso e mula.
Vacas dos sorteios puta,
Vacas das mentiras públicas,
das manipulações contínuas,
das encomendas e controlo rigorosíssimo da sorte e do azar,
vacas da sorte,
vacas da morte,
santas vacas, casa sem misericórdia!
Estais bem para todo o ridículo que uma mente humana conceba
quando vos lembrais de ainda fazer publicidade e mentir, mentir, e mentir!
Vacas que se aputalham naturalmente
com quem tenha,
com quem renda,
com quem cheire,
com quem vista,
com quem muitos cavalos,
vacas de hemorroidal tão intacta quanto a respectiva moral,
sempre em sangues e em dores aqui e ali,
quando tiveram dedo, especiaria ou a surpresa lubrificada,
que por amor não perdoou,
além do aspecto babuínico, convexo,
numa prévia experiência geriátrica debalde humildante.
São vacas que se aputalham,
fezes felizes, rostos que riem, no caminho de uma longa lista de enganados.
Joaquim Santos
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