SONDAGEM DE RUA


E o dono lá da loja da esquina disse
que sim, senhor, este Governo estava muito bem,
veio acabar com a rebaldaria que estava instalada,
tem sido duro e intransigente seja com quem for para moralizar isto e tal.
Tive de sorrir amarelinamente enquanto lhe pagava o pacote de bolachas.
ljlj
E a minha mulher lá desabafou, depois de eu lhe desabafar do dono da loja,
que se este Governo não tivesse intervindo tanto contra o meu bolso e a minha profissão,
eu não andaria tão rebelado e inconsolável.
çlk
E, à noite, madrugada alta, quando a rusga policial veio espetar no Pub,
onde trabalho como porteiro e protossegurança, com uns dez polícias,
(dentro das suas fardas, botas e pose-cagança, nádegas insufladas,
naquela tensão armada dos filmes com soldados nazis e as suas rusgas ao Gheto,
com uma carrinha ainda cheia deles, lá fora,
talvez a ouvir música e a conversar animadamente,
ali, em missão inspectiva e rotineira, com inquérito, anotações,
perguntas à queima-roupa,
«Você trabalha aqui?
Há quanto tempo?
E é o quê? Ah, é o porteiro!»
e, no fim,
desejos de bom trabalho e apertos de mão aqui 'ao porteiro'
com o maior ar de inconsolável judeu, numa resignação tensa pela devassa)
fiquei a pensar obrigatoriamente no que me recordou o dono da loja,
e me declarou a minha mulher.
lkj
Abandonei-me, interrogativo, à consideração de tantas das causas
que nestes três anos me moveram
apaixonadamente, inconformadamente contra a coisa socratina no seu todo,
porque vi em Sócrates um movimento implicitamente absolutista e incontestável,
fiscalmente asfixiante, mediaticamente coarctivo,
porque vi o grande conúbio Governo-Portentos Privados,
porque vi grassar maior desemprego e enorme desvalimento em mim e em tantos,
porque vi o super-técnico Correia de Campos, nas suas certezas técnicas,
com ironias e sarcasmos com óbitos e microtragédias familiares na transição de sistema,
em pleno prime-time,
porque vi o tom de guerra e a acção trituradora da vida escolar por este ME,
porque vi a Vaidade, a coreografia esbracejante e dançante e alheada da realidade
nos discursos oficiais,
porque vi um rol de coisas que não podem ser esquecidas
nesta paz doce e cordata de que se tece agora aparentemente a acção Governativa.
lkj
O trigo e o joio no consulado socratino cresceram misturados,
mas não foi o inimigo que plantou o segundo
ou o fez tão dramaticamente crasso e maioritário a meus olhos.

Comments

Joshua!
«o dono lá da loja da esquina disse
que sim, senhor, este Governo estava muito bem,
veio acabar com a rebaldaria que estava intalada,
tem sido duro e intransigente seja com quem for para moralizar isto e tal»
É assim! e não há volta a dar.Para haver possibilidades de haver volta para dar seria necessário que, os "donos das lojas", soubessem que primeiro não se fala do que não se tem a mais pequena ideia do que se está a fala além de que os sentidos enganam como tal que, "os donos das lojas",em segundo lugar, adquirissem que o governo mudou trampa nenhuma, Põs fim a rebaldaria alguma. Depois que, os "donos das lojas" vissem um pouco mais que o prato de bolota que têm para deglutir e não vêem - a maioria deles não sabe sequer se passados dois dias vão ter bolota para pôr no prato: depois ainda seria necessário que, os "donos das lojas" em vez de funcionarem por impulsos instintivos - pavlovianamente - raciocinassem... voltamos ao ponto de partida: se raciocinassem já tinham encharcado o palco onde se exibe o "artista" de tomates pôdres e pedras e o tinham atirado para os bastidores do palco debaixo de uma grande pateada e assobiadela. Como não raciocinam não o fizeram com este "artista" nem o fizeram com o anterior menos ainda ao "produtor" - Sampaio - nem ao que por lá esteve antes e que os embeveceu com uma grande "tanga"(só deram por ela quando o esperavam para o 2º acto e o gajo se tinha cagado para eles e foi dar o espectáculo onde lhe pagam melhor, onde a responsabilidade é menor e onde a visibilidade é muito maior) assim como também por não raciocinarem, andaram a babar-se, a snifar "diálogo" e "Estratégia de Lisboa" guterriana (que não sabia o que era um @ nem fazer contas de cabeça mas falaaaaaaaava "estrangeiro") e quando saíram da "trip" já o "dealer" lhes tinha dito que havia mundo (e filantropia para espalhar) para além do "charco"(ele com a mania das grandezas comum aos portugueses chamou-lhe pântano)- eu que por vezes sou má-língua digo que não temos dimensão para ser pântano quando muito um charco com águas pútridas e fétidas.
David Oliveira
Anonymous said…
O português é mesquinho. Já ouvi conversas parecidas e mesmo piores, especialmente no início deste conjunto de prepotências, ameaças e intimidações a que estes xuxalistas resolveram chamar governo. Houve um dia em que até me zanguei - coisa pouco assisada pois nada mudou na cabeça dos parvos com quem falava.Fiquei estarrecido com a manifestação da inveja, do rancor, do português médio contra os que estudaram, contra todos os que sairam da vulgaridade comezinha e de contornos varrasco-futebolísticos que caracteriza a maioria - pois eles são a maioria, muito infelizmente.
Finalmente compreendo a teoria da fundamentação do domínio pela minoria esclarecida, que é invocada pelo comunismo tradicional... Caramba, que é mesmo insustentável a leveza do ser!

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