UM REGIME SOB VAIA PERMANENTE

Isto é assim: no actual estado da arte, seria fácil de mais diluir no Regime que nos oprime de incúria e incompetência todas as responsabilidades pelo nosso notório e escusado descalabro. Mas o Regime é quem? Quais os rostos que fizeram da República a matrafona desdentada e consumida de vícios que hoje nos come os ossos e nos arremessa para as bordas do prato mínimo?! Há, nos actores políticos de maior relevância nas últimas três décadas, rostos suficientes para receber as vaias que lhe são devidas e para nos fazer concluir o quanto mudar de Regime seria suprema higiene porque refundaria tudo sob bases novas e certamente sólidas. Por mim falo pois, sem rebuço, tanto vaio Cavaco como Soares e a cada apupo sublinha-se-me a memória da respectiva nulidade, do evidente falhanço e da incontornável traição ao interesse geral que muito pouco poderia absolver. Só não vaio Eanes, que é um caso raro de sobriedade, se me não escapa alguma Fundação Eanes que por aí prospere à nossa custa porque à pala dos Orçamentos. Sou democrático e generosos: os meus apupos e disponibilidade para a assuada tanto contemplariam Miguel Relvas como Almeida Santos. Não sou esquisito. Evidentemente que para agentes daninhos em extremo da política nacional sob o escudo e biombo que este Regime insalubre gerou para si, não há vaia que chegue, nem manifestação, nem marcha indignada, nem desordem-montras-partidas nem delitos-cocktail, nem arruaças-molotov, nem motins-temos-fome, nem algazarras-gregas-repelentes-de-turistas, nem vozearias-desespero, nem apupadas, nem montarias. Para esses casos extremos de que Mário Soares não fala e Januário Torgal não lembra, casos raros mas maximamente dissolutos, casos indescritíveis, casos desastrosos, seria necessário que sofressem e morressem milhares de vezes tais as milhares de mortes familiares e sofrimentos pessoais que arrostaram para outros, que não os amigos. Como nada acontece e as culpas se mitigam pelo silêncio dos media, com o sorna, muito sorna, evitamento de matérias por demais negras, resta-nos incomodá-los o mais possível e chamá-los pelo nome próprio incomum com que a História os baptiza e rebaptiza: Filhos da Puta! Refinados Filhos da Puta, uns, em empresas ‘privadas’ em cujo seio repousam como num ninho longamente preparado e acalentado quando ainda não eram ex-ministros. Outros, em exílios exorbitantes de ócio, gastronomia e fodas mansas entre cetins, sais de banho, manicure e esfoliação, que nenhuma vida activa, produtiva, desportiva alguma vez explicaria sem vergonha. Não há Justiça sobre a Terra que se encarregue deles. Só no Reino-Já-Aí-e-que-Há-de-Vir poderão os demónios concebidos por Hieronymus Bosch atormentá-los ternamente com cócegas, putrescência e caganeira. Entretanto, para que nos serve uma República irremediavelmente prostituída, usada para benefício de um círculo de mesmos ensimesmados mamões repetidos e perpétuos, sujeita ao nosso escárnio quotidiano, quando poderíamos ter um Rei de mãos limpas, rosto sóbrio, a outorgar-nos novos ares de orgulho, renovada memória longínqua, gratidão por um serviço livre e vitalício pela nossa liberdade?! Neste desígnio não há comunista nem activista de Direita nem mação nem católico. A ferida tem pus? Cauterize-se. A perna gangrenou? À falta de uma bioquímica tipo salamandra, corte-se.

Comments

fdloribundus said…
a companhia das águas cortou o fornecimento à casa de Eça.
este escreveu ao director da companhia a perguntar o que queria que lhe cortasse

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