A INAUDITA GUERRA DA RUA CORREIA GARÇÃO
pedras esvoaçantes nas bordas do Parlamento. Hordas minorcas à pedrada, o espectáculo que nos faltava. Para acertar em quem e obter o quê? Acertar em polícias, acicatá-los, sorver adrenalina grátis à falta pó de talco. Obter o efeito de cinema à hora nobre. Escudos furados. Viseiras visadas. Capacetes retinindo em seco a cada ricochete. Uma cena miserável, frouxa, patética, pouco ou nada portuguesa. Lapidar polícias? Nada mais estúpido! A Greve Geral foi, portanto, além de Restrita, destruída. De resto, não se poderia esperar impacto global numa greve feita pelos mesmos e para os mesmos, tendo como único alvo, não um Governo que decide manietado pelos cordéis constritivos com que os credores nos cercam, mas a generalidade dos contribuintes, na verdade aqueles que pagam o caos do passado e os remendos do presente. Quem se manifesta? Quem não tenha a temer um despedimento retaliador. Funcionários de empresas públicas falidas, sectores inteiros só há pouquíssimo tempo emergindo para alguma rentabilidade operacional, mas ainda endividados calamitosamente, parcelas de Orçamento que não compareciam antes de 2012. Sim, há agora choro e ranger de dentes. Os funcionários públicos vêem-se comprimidos na incerteza de todas as garantias do passado, com a ameaça das ameaças que consiste em perder muito mais que em impostos, reformulação de vencimentos ou esmagamento de pensões. O trabalho. Daí que o apedrejamento imbecil de polícias apenas tenha reforçado e protegido o Decrépito Sistema Político Português, nas dimensões irreformandas dele. O statu quo dos partidos de rapina-para-si, como o PS, ou de desesperada rapina fiscal para pagar a dívida, como o PSD e o CDS, sai confirmado, intocável e impune, porque a violência, na sua idiotia estéril e desautorizada, nunca terá um foco, um objectivo moralizador e justiciário, apenas anarco-justiceiro difuso, se tanto. A Governação não sai beliscada de maior no seu caminho espinhoso de profunda e cumulativa impopularidade. Esta incumbência governativa terá como aliado a rejeição geral dos experimentalismos espingardantes CGTP, exposto o efeito perverso de multidões sem serenidade, constância e clareza, sem liderança e sem propósito definido para uma alternativa, aliás inexistente. A defesa da segurança pública é um imperativo transversal na sociedade: nem os partidos nem as instituições e papéis institucionais se isentam de a acautelar. Ora, se havia uma Greve pretensamente geral, ela falhou ao primeiro pedregulho arremessado. A carga policial foi o desenlace natural, durante o qual não há negociação, mas repressão e limpeza. Desde há décadas que as não temos amiudadas e já havia saudades. Os que se viram apanhados no meio da balbúrdia, se não sabiam, deveriam saber ao que iriam e sobretudo o que se desenhava com aquele apedrejamento. Teria sido tudo tão simples se não passasse de gritar contra a Troyka e contra o Governo, ouvir o Camarada Espingardante Fóssil Arménio e depois regressar ao sofá para ver as imagens, as entrevistas, as velhas assanhadas agarradas a um cravo vermelho de papel de seda. A brutalidade é o efeito e o preço a pagar por um punhado de arruaceiros imberbe na via pública, escudados e acalentados por manifestantes que não desfizeram a forma nem dispersaram à vista daquela deprimência. Derrotada do dia? A CGTP. O famoso pacifismo tenso das arruadas contraposto ao linguajar beligerante dos discursos teria de redundar nisto: suficiente pasto para que se soltasse uma violência e esta encontrasse uma foz, mas os efeitos práticos não passarem de lacerações, hematomas, detenções, e uma extensa desmoralização do moto justo que assiste aos que se afligem e desesperam.
Comments
Para além da fluidez das palavras e das ideias há, paradoxalmente, algo de fóssil, algo que, difusamente, nos conduz ao tempos das trevas. Talvez da barbárie pós-moderna que esconde os novos seguidores de Torquenada...
E voilá...
Cumprimentos
JPedro