EMPOBRECER
Empobrecer é fodido. Terça-feira, a proposta do
Governo para o Orçamento do
Estado para 2013 será aprovada. Sinto-me impotente para contestar o que se mostra inevitável, embora nem discuta o facto patente a todos os olhos de não ter propriamente à testa do Governo quem se bata por mim, por cada um de nós com unhas e dentes. Um País sob intervenção externa não debate nem negocia orçamentos. Debate e negoceia minudências e montanhas que vão parir os ratos habituais. Simular baixar os danos sociais enquanto na verdade se submete ao receituário de base. Desde logo, eu esperaria da Oposição em geral e do PS em particular ideias que merecessem o acolhimento pelos partidos do Governo: horroriza-me que os partidos não cooperem nem trabalhem sinergias práticas no sentido de desonerar as medidas mais gravosas sobre as pessoas. O que é que PSD e CDS têm para nos dar no que respeita à remoção de todas as situações de excepção na cúpula governativa e noutras zonas de conforto perpétuo?! Zero. Por que motivo não se renuncia ao pagamento dos subsídios de Natal dos assessores e adjuntos
do Governo para fazer exactamente o que os Governos-PS nunca por nunca fizeram ou fariam enquanto caminhavam alegremente para o atascamento fatal do País?! Neste ponto, o Primeiro-Ministro e o Ministro das
Finanças voltam a ser fracos, a falhar-me, hierárquicos, aristocratas. Este Orçamente bem pode assumir a reformulação das metas para 2013: em vez de um défice de 4,5%, o que Deus quiser, tal como para 2012, em vez de 5%, será de 6% para cima, mas isso tem explicações que a nossa vã filosofia não pode perscrutar, dada a desactivação massiva de economia, postos de trabalho, consumo, acréscimo de peso na componente social do Orçamento. Detentores de lugar cativo nos media falam, há semanas, na ideia de demitir o Primeiro-Ministro e o seu Governo. Soares, Freitas, Louçã, — o Céu e o Inferno — propugnam dia sim dia sim a remoção deste elenco, ao passo que os credores vêm avaliar trimestralmente o ajustamento, garantindo paradisíacas os nossos progressos, o emagrecimento radical do nosso Estado Social, as próximas e promissoras privatizações, a transferência de sectores públicos para a iniciativa privada.
Porém do lado do PS, o estado de guerrilha interna não poupa a brandura de António José Seguro e a
direcção do PS: cinicamente a corrente pelo Rasgão do Memorando, que labuta à Esquerda da Retórica Xuxa faz o que sempre fez: negra a vida do líder. Fogem de vir a ser Governo e a suportar medidas impostas pela Troyka como o Drácula de uma trança de alhos. Para todos os efeitos, o Memorando umas vezes é rasgado [António Costa rasga-o todas as Quintas-Feiras, na Quadratura do Círculo, disposto a assinar um novo, se lhe derem importância, tempo e a oportunidade de ser o próximo líder, presume-se]. Passos olha para nós, o seu próprio Povo, em alemão. Silencia em alemão, quando poderia marcelizar a conversa connosco todas as semanas, em família. Toda a Europa, nos seus farrapos e enorme problema da moeda e da coesão, está suspensa das eleições alemãs. Trata-se de uma amarga ironia que, no próximo ano, à paralisia das instituições europeias se some a paralisia das instituições nacionais: para que alguma coisa nos corresse perfeitamente, seria preciso que o Presidente
da República lançasse centenas de traineiras ao Atlântico para pescar gambuzinos comestíveis, inaugurasse uma centena de novas indústrias de fazer inveja aos chineses, corta-unhas e bijuteria a preços competitivos com a indústria caseira a carvão nos arrebaldes de Pequim. Dissolver
a Assembleia
da República e
convocar eleições? Isso é para fracos, para jornalistas-PS, conspiradores torcidos PS, gente completamente atoleimada dos cornos, nesta Hora de Morrer ou Morrer.
Demitir o
Governo corresponderia a demitir a Troyka, cuspir no BCE, cagar para o FMI, fazer um dedo do meio à Comissão Europeia e à Chancelerina. Não se espere um Cavaco Silva em 2013 capaz de engendrar um problema gigantesco à nossa pequena posição fantástica no conceito internacional e horrível no teu, meu, nosso bolso.
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A seguir, era o ajuste de contas, para quem nos meteu nesta camisa de onze varas.