UM PAPEL OU NENHUM PARA SILVA PENEDA

O PS, com António José Seguro, tornou-se, apesar de tudo, um partido normal. Saiu de uma lógica aclamacionista pomposa e de um clima interno opressor e inquestionável, por muito que a sua recente reeleição tenha sido unânime e norte-coreana. Porém, até que a hora de ser poder lhe caia no colo, há muito trabalho a fazer para que sobre algum País sobre o qual governar. O primeiro ponto dessa magna tarefa será cooperar com o Governo Passos: para ficarmos no Euro e conservarmos o mínimo de credibilidade externa. Goste-se ou não se goste, é preciso cumprir as metas acordadas com a Troyka e conservar uma base mínima de negociabilidade em aberto. Concedo que o ultratroykismo gaspariano-passista conduziu a um tipo de devastação económica e a um tipo de recessão que bem poderiam ter sido minorados. Houve arrogância e insensibilidade e, sobretudo, a grande mensagem da dupla foi depressiva e desesperante. Resultados? Muito poucos e menos ainda sensíveis na vida de milhões de portugueses. A política é a arte de insuflar esperança contra a pior das evidências, não a frieza da aplicação de uma teoria sobre os cidadãos-cobaia. Uma vez que o mal está feito, é preciso o sentido patriótico suficiente para não piorar ainda mais a nossa situação. Portugal conta com Seguro. 

Com um partido normalizado, Seguro continua a ter dentro das suas hostes uma facção que não é para brincadeiras. Essa facção quer estar de bem com o diabo e com o diabo [detesta Deus e Religião]: escarnece da autoridade de Seguro, pressiona-o para que adopte atitudes e retóricas próximas do ultrarradicalismo de Esquerda-Guilhotina, trabalha na sombra para minar todos os esforços de convergência, prática de alta política, suprimento das necessidades de Estado. E a razão é simples. Trata-se de uma facção que experimentou o poder recentemente. Traumatizada com a morte precoce do segundo Governo Guterres, repescada pelo Playboy, em 2005, dispôs-se a organizar-se no plano da comunicação e da coesão de todo o Partido Socialista no sentido da imunidade à contestação e à crítica, colocando-se ao ataque no macio areópago mediático através de uma contra-crítica tenaz que não conhece o que seja o sono em serviço. Sim. Os socratistas. Apeados nas eleições de 2011, não se conformam. Têm como mitos e feixe de justificações, a recusa do PEC IV e a Crise Internacional e não baixam a guarda no grande combate de narrativas, pobres diabos. Seguro tem uma cruz nada invejável, até porque esta gente habita o Parlamento e polui de chacota a sua liderança e de conspiracionismo a respectiva bancada. Move-os a busca do Poder. Que Portugal se foda é o lado para que dormem melhor.

A Direita, a Direita, a Direita. O Quixotismo destes melgas da Política apontam para o naufrágio da Grécia e para mudança de linha política na Europa, no princípio de 2010, como primeiros responsáveis pelo contágio e gestação do nosso actual problema e nunca assumem de que modo e porquê colocaram eles Portugal tão a jeito da alcateia especulativa ou por que os ajustes directos, o despesismo lunático, os negócios de Ministério-Empresários através dos PIN, a sofreguidão das PPP, fizeram o seu caminho sem gerar nem crescimento nem baixa no desemprego. Pagar seria depois. E depois é hoje. Tem sido muito cómodo para esta gente sem vergonha atirar para a crise das dívidas soberanas a causa dos actuais problemas económicos de Portugal e colocar o corpo fora de quaisquer culpas bem como de quaisquer soluções de compromisso. 

A Direita. O PEC IV, a Europa, o Mundo, os caluniosos nos seus ataques de carácter. O dinheiro acabara. O crédito externo acabara, mas o socialismo gastador haveria de encontrar uma forma de fazer dinheiro e meter dinheiro, não se sabe como nem onde. Ou seja, a realidade é ainda a grande inimiga da maravilhosa e santa narrativa socratesiana. O cansaço que boa parte do País experimentava por esse tipo de chavismo demagógico favoritista e amiguista até à quinta casa não podia exprimir-se sem ser tomado, por essa fauna de politólogos chanfrados, como caudaloso e conspirativo ataque calunioso. 

Ora, dificilmente poderá esta tribo homo-activista e maquiavélica obter boleia num Governo com Seguro ao leme. Nem Costa, que recuou. Nem o Primadonna, que desilude e causa sono, nos monólogos da RTP. Há mais alguém? Silva Peneda aparece como o novo messias, uma espécie de Monti que, caso um dia fosse empossado com pleno acordo do Arco Governativo, seria descartado, mal deixasse de ser útil à grande causa que move os defensores do Socialismo Sectarista e Elitista do Regime Português, Pântano Democrático e Coutada para Poucos, para os Mesmos. Evidentemente que cortar despesas é um peditório para que os socialistas, Seguro e os outros, não dão. Isto é, consideram que o Governo deve cortar despesas, mas não dizem quais nem se chegam à frente para ajudar à definição consensual delas: uma vez eleitoral, para sempre eleitoral. Depois acusam Gaspar, coitado, de evitando o primeiro caminho, insistir num segundo, aumentar receitas, inventar impostos, taxar a saliva.

Daí que até estas bestas tenham descoberto o novo Cavalo de Troia para a obtenção de alguma esperança de Poder e sobretudo de alguma boleia para ele. Silva Peneda. Não é que não se trate de um homem experiente e repleto de bom senso, mas mesmo um assim não deixa de ser passível dos tecidos e das trocas químicas que engendraram este Monstro Falido e Estagnado que é Portugal. Talvez Peneda formatasse um consenso indiscutível que o mutismo e o anulamento de Passos Coelho comprometeu, mas não há tempo a perder. E os compromissos para a nossa sobrevivência dependem menos de homens experientes e de provas dadas no conhecimento da nossa realidade que de uma nova tentativa, com o que temos e com o que está, de concertação social, escuta respeitosa das forças políticas, e atendimento aos argumentos, reparos e sugestões das forças vivas da economia portuguesa. 

Seria muito lindo ir a eleições, ou constituir do pé prá mão, meses?, um governo de iniciativa Presidencial ou de iniciativa do Vítor Ramalho e Mário Soares. Mas infelizmente nem temos tempo nem confiamos na bojuda bondade de bonzos gordos do Regime como esses cromos repetidos.

Comments

Floribundus said…
com seguro iremos para a 4ª bancarrota.
felizmente já cá não estarei para sofrer

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