É A MINHA
Camille im grünen Kleid Claude Monet, 1866 |
ao entrar com Hussonnet no seu escritório,
viste através da porta (a que dava para a escada) desaparecer a fímbria de um vestido.
— Mil desculpas! — disse Hussonnet. — Se soubesse que havia mulheres…
— Oh!, quanto a essa é a minha — replicou Arnoux. — Tinha subido
para me fazer uma visitinha, de passagem.
— Como? — disseste.
— Sim, sim!, ela volta para casa.
O encanto das coisas ambientes retirou-se de súbito.
O que aí sentias confusamente espalhado acabava de desvanecer-se,
ou, antes, nunca lá estivera,
sentias uma surpresa infinita
e como que a dor de uma traição.
Arnoux, rebuscando na gaveta, sorria.
Estava a zombar de ti?
O caixeiro pôs-lhe em cima da mesa um maço de papéis húmidos.
— Ah!, os cartazes! — exclamou o negociante. — Nunca mais consigo jantar esta noite!
Regimbart pegava no chapéu.
— O quê, vai deixar-me?
— Sete horas! — disse Regimbart.
Tu acompanhaste-o. À esquina da rua Montmartre,
voltaste-te; fitaste as janelas do primeiro andar;
riste-te interiormente com piedade por ti próprio,
ao te lembrares com que amor as tinhas contemplado tantas vezes!
Então onde vivia ela? Como encontrá-la agora?
A solidão tornava a abrir-se em torno do teu desejo mais imensa do que nunca!
— Vem tomá-lo? — disse Regimbart.
— Tomar quem?
— O absinto!
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