O CIDADÃO REGIMBART

A Fada Verde

As grandes letras que compunham o nome de Arnoux na placa de mármore,
no alto da loja, pareciam-lhe muito particulares e cheias de significado,
como uma escritura sagrada.
O passeio largo, a descer, facilitava o andar,
a porta girava quase por si própria;
e a maçaneta, lisa, tinha a doçura,
e como que a inteligência, de uma mão na sua.

Insensivelmente, tornou-se tão pontual como Regimbart.
Todos os dias Regimbart sentava-se à lareira,
na poltrona, apossava-se do Nacional, não mais o largava,
e exprimia o seu pensamento através de exclamações
ou de simples encolher de ombros.

De vez em quando enxugava a testa
com o lenço enrolado como um chouriço,
e que usava ao peito,
entre dois botões da sobrecasaca verde.
Tinha umas calças pregueadas, sapatos-botas, uma gravata comprida;
e o chapéu de abas reviradas fazia-o reconhecer, ao longe, nas multidões.

Às oito horas da manhã,
descia das alturas de Montmartre,
para tomar vinho branco na rua Notre-Dame-des-Victoires.
O almoço, a que se seguiam várias partidas de bilhar, conduzia-o até às três horas.
Dirigia-se então para a passagem dos Panoramas,
a fim de tomar absinto.
Depois da sessão na casa de Arnoux,
entrava no botequim Bordelais,
para tomar vermute;
a seguir, em vez de ir ter com a mulher,
preferia muitas vezes jantar sozinho,
num pequeno café da praça Gaillon,
onde queria que lhe servissem pratos caseiros, coisas «naturais!».
Por fim, transportava-se para um outro bilhar,
e aí ficava até à meia-noite,
até à uma da manhã,
até ao momento em que, gás apagado e persianas corridas,
o dono do estabelecimento, extenuado, lhe suplicava que saísse.
E não era o amor das bebidas
que atraía a estes locais o cidadão Regimbart,
mas o hábito antigo de falar ali de política;
com a idade, fora-se-lhe o espírito,
apenas tinha uma morosidade silenciosa.
Dir-se-ia, ao reparar no ar sério da sua cara,
que revolvia o mundo na cabeça.
Nada de lá saía; e ninguém, mesmo entre os seus amigos,
lhe conhecia ocupações, embora passasse por ter um gabinete de negócios.
Arnoux parecia estimá-lo infinitamente.
Disse-te um dia:
 Aquele sabe-a toda, bolas! É um homem forte!

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