MALICIOSO NO SEU COMÉRCIO
Rembrandt, O artista em seu estúdio, 1626-28. Representação do estúdio de um pintor no século XVII |
Uma outra vez, Regimbart exibiu em cima da sua escrivaninha papéis
que diziam respeito a minas de caulino na Bretanha;
Arnoux recorria à sua experiência.
Tu mostraste-te mais cerimonioso para com Regimbart,
a ponto de ofereceres-lhe absinto de vez em quando;
e embora o julgasses estúpido,
muitas vezes ficavas na sua companhia durante uma hora inteira,
unicamente porque era amigo de Jacques Arnoux.
Após ter lançado nos seus começos mestres contemporâneos,
o vendedor de quadros, homem progressista, tentara,
conservando ares artísticos,
alargar os seus proveitos pecuniários.
Buscava a emancipação das artes,
o sublime barato.
Todas as indústrias do luxo parisiense sofreram a sua influência,
que foi boa para as pequenas coisas, e funesta para as grandes.
Com a sanha de adular a opinião,
desviou da sua rota os artistas hábeis,
corrompeu os fortes,
esgotou os fracos
e ilustrou os medíocres;
dispunha deles através das suas relações e da sua revista.
Os pinta-monos ambicionavam ver as suas obras na montra
e os estofadores iam buscar-lhe a casa modelos de móveis.
Tu considerava-lo ao mesmo tempo
como milionário,
como diletante,
como homem de acção.
Muitas coisas, porém, o espantavam,
porque o Senhor Arnoux era malicioso no seu comércio.
Recebia dos confins da Alemanha ou da Itália
uma tela comprada em Paris por mil e quinhentos francos, e,
exibindo uma factura que a elevava a quatro mil,
revendia-a por três mil e quinhentos, por favor.
Um dos seus estratagemas vulgares com os pintores era exigir como «luvas»
uma miniatura do quadro, sob o pretexto de lhe publicar a gravura;
vendia sempre a miniatura
e nunca a gravura aparecia.
Aos que se queixavam de ser explorados,
respondia ele com uma pancadinha no ventre.
Excelente, aliás, prodigalizava charutos,
tratava por tu os desconhecidos,
entusiasmava-se por uma obra
ou por um homem, e,
obstinando-se então, não olhando a nada,
multiplicava as correrias, as correspondências, os reclamos.
Tinha-se por muito honesto, e,
na sua necessidade de expansão,
contava ingenuamente as suas indelicadezas.
Uma vez, para vexar um confrade
que inaugurara um outro jornal de pintura
com um grande festim,
pediu-te que escrevesses,
sob as suas vistas, um pouco antes da hora da reunião,
bilhetes em que eram anulados os convites feitos.
— Isso não ataca a honra, compreende?
E não te atreveste a recusar-lhe este serviço.
que diziam respeito a minas de caulino na Bretanha;
Arnoux recorria à sua experiência.
Tu mostraste-te mais cerimonioso para com Regimbart,
a ponto de ofereceres-lhe absinto de vez em quando;
e embora o julgasses estúpido,
muitas vezes ficavas na sua companhia durante uma hora inteira,
unicamente porque era amigo de Jacques Arnoux.
Após ter lançado nos seus começos mestres contemporâneos,
o vendedor de quadros, homem progressista, tentara,
conservando ares artísticos,
alargar os seus proveitos pecuniários.
Buscava a emancipação das artes,
o sublime barato.
Todas as indústrias do luxo parisiense sofreram a sua influência,
que foi boa para as pequenas coisas, e funesta para as grandes.
Com a sanha de adular a opinião,
desviou da sua rota os artistas hábeis,
corrompeu os fortes,
esgotou os fracos
e ilustrou os medíocres;
dispunha deles através das suas relações e da sua revista.
Os pinta-monos ambicionavam ver as suas obras na montra
e os estofadores iam buscar-lhe a casa modelos de móveis.
Tu considerava-lo ao mesmo tempo
como milionário,
como diletante,
como homem de acção.
Muitas coisas, porém, o espantavam,
porque o Senhor Arnoux era malicioso no seu comércio.
Recebia dos confins da Alemanha ou da Itália
uma tela comprada em Paris por mil e quinhentos francos, e,
exibindo uma factura que a elevava a quatro mil,
revendia-a por três mil e quinhentos, por favor.
Um dos seus estratagemas vulgares com os pintores era exigir como «luvas»
uma miniatura do quadro, sob o pretexto de lhe publicar a gravura;
vendia sempre a miniatura
e nunca a gravura aparecia.
Aos que se queixavam de ser explorados,
respondia ele com uma pancadinha no ventre.
Excelente, aliás, prodigalizava charutos,
tratava por tu os desconhecidos,
entusiasmava-se por uma obra
ou por um homem, e,
obstinando-se então, não olhando a nada,
multiplicava as correrias, as correspondências, os reclamos.
Tinha-se por muito honesto, e,
na sua necessidade de expansão,
contava ingenuamente as suas indelicadezas.
Uma vez, para vexar um confrade
que inaugurara um outro jornal de pintura
com um grande festim,
pediu-te que escrevesses,
sob as suas vistas, um pouco antes da hora da reunião,
bilhetes em que eram anulados os convites feitos.
— Isso não ataca a honra, compreende?
E não te atreveste a recusar-lhe este serviço.
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