TETRAGRAMMATON
Tetragrammaton vivia na quarta dimensão. Era poderoso, inteligente e feliz. Por isso desejava comunicar a sua felicidade. O problema estava — Ele sabia-o — em que, ao fazê-lo, deveria produzir seres distintos d'Ele: seres da terceira dimensão, inferiores, limitados, incapazes de compreendê-lo, praticamente cegos à totalidade do real. Porque, como pode o ponto compreender a linha? O que sabe a linha da grandeza da superfície? O que retém a linha da profundidade dos corpos? Que relação poderiam ter alguns seres tridimensionais com o abismo omnicompreensivo da quarta dimensão? E havia algo mais grave ainda: esses seres estranhos e quase impossíveis teriam de aguentar as consequências das suas inevitáveis limitações: o sofrimento da precariedade, a tragédia do desajuste, a luta pela sobrevivência.
Tetragrammaton estava em dúvida. Valia a pena? A felicidade que pretendia dar-lhes compensava a for que não lhes poderia evitar? Eles chegariam a compreender e aceitar?
Mas a força do amor acabou por vencer. Ele estava disposto a fazer todo o possível e a perdoar todo o necessário. Além disso, pensou: de qualquer modo, a sua substância mais íntima, o dinamismo profundo do seu ser, o próprio espaço em que habitam, acabarão por fazer com que Me pressintam em tudo quanto sintam, pensem e façam. Estando atento, pressionando com todos os meios do amor, conseguirei fazer-me notar. Cedo ou tarde aprenderão a pronunciar o meu nome.
E assim tomou a decisão e começou a aventura.
Tetragrammaton, que na sua quarta dimensão tudo vê e tudo compreende, não desiste dos seus projectos. Procura, por todos os meios, dar-se a conhecer. Aproveita qualquer circunstância — às vezes quem sabe discretamente provocada — para fazer sentir mais claramente a sua presença.
Nem tudo é fácil, mas prossegue. Na terceira dimensão, parece que muitos nem se inteiram. Mas outros sim. E inclusive há os que mostram uma sensibilidade especial. então ele, sem lhes forçar a liberdade, impulsiona-os adiante, e os faz sentir o seu fascínio. Eles, por sua parte, entusiasmados pela descoberta, compreendem que Tetragrammaton é o nome daquele que já estava sempre aí, chamando a todos e por todos de algum modo pressentido. Por isso não podem guardar o segredo: proclama a sua experiência e gastam a vida procurando que, finalmente, todos se possam ir dando conta.
Como sempre, uns fazem caso e outros não: uns compreendem bem e outros compreendem pela metade ou não compreendem nada: há os que riem, e não faltam os que se enfurecem; em outros lugares não negam a experiência, mas oferecem explicações alternativas. Experiência chama experiência, e cada avanço abre novas possibilidades. Criam-se comunidades e formam-se tradições. Tetragrammaton não perde ocasião. Onde há uma descoberta, alegra-se como um pai olhando os primeiros passos do eu filhinho, e até há quem diga que se lhe alegra o coração. Apoia todos e está atento à menor possibilidade.
Aconteceu até que um dia descobriu um ponto que, por sua situação, por sua sensibilidade, pelo jogo misterioso das circunstâncias, oferecia possibilidades especiais. acompanha com cuidado os seus habitantes, cultiva-os, consegue ir-lhes descobrindo um a um os seus projectos mais íntimos. Chega o momento em que, dentro do que permite a terceira dimensão, consegue o que parecia impossível: aparece alguém que enfim abre-se totalmente a ele, e compreende que o seu amor é uma presença irreversível, que a sua promessa é mais forte que todas as faltas. Algo tão magnífico que consegue, efectivamente, contagiar: os poucos que vivem no começo formam uma espécie de phylum expansivo que se abre a todo o âmbito da terceira dimensão.
Entretanto, apesar das aparências, Tetragrammaton não abandona os demais. O que poderia parecer um privilégio de "escolhidos" — muitas vezes eles, lamentavelmente, pensam assim — não é mais que a estratégia do seu amor a todos: cultivar intensamente a um só é o melhor modo de alcançar mais rapidamente os demais. Ainda assim, é inevitável que nem todos compreendam e que surjam em seguidas lutas e rivalidades: na precariedade da terceira dimensão todos querem ser únicos e privilegiados. Mas os que estão no segredo sabem que Tetragrammaton sorri compreensivo: ele pensa em todos e a todos envolve no seu amor.
Além do mais, guarda uma surpresa misteriosa que somente ele pode compreender e realizar: um dia acabará por romper os limites do seu espaço para reunir a todos na quarta dimensão. Ali se lhes abrirão os olhos. Nesse meio tempo, ele acompanha, impulsiona... e compreende.
Mas a força do amor acabou por vencer. Ele estava disposto a fazer todo o possível e a perdoar todo o necessário. Além disso, pensou: de qualquer modo, a sua substância mais íntima, o dinamismo profundo do seu ser, o próprio espaço em que habitam, acabarão por fazer com que Me pressintam em tudo quanto sintam, pensem e façam. Estando atento, pressionando com todos os meios do amor, conseguirei fazer-me notar. Cedo ou tarde aprenderão a pronunciar o meu nome.
E assim tomou a decisão e começou a aventura.
Tetragrammaton, que na sua quarta dimensão tudo vê e tudo compreende, não desiste dos seus projectos. Procura, por todos os meios, dar-se a conhecer. Aproveita qualquer circunstância — às vezes quem sabe discretamente provocada — para fazer sentir mais claramente a sua presença.
Nem tudo é fácil, mas prossegue. Na terceira dimensão, parece que muitos nem se inteiram. Mas outros sim. E inclusive há os que mostram uma sensibilidade especial. então ele, sem lhes forçar a liberdade, impulsiona-os adiante, e os faz sentir o seu fascínio. Eles, por sua parte, entusiasmados pela descoberta, compreendem que Tetragrammaton é o nome daquele que já estava sempre aí, chamando a todos e por todos de algum modo pressentido. Por isso não podem guardar o segredo: proclama a sua experiência e gastam a vida procurando que, finalmente, todos se possam ir dando conta.
Como sempre, uns fazem caso e outros não: uns compreendem bem e outros compreendem pela metade ou não compreendem nada: há os que riem, e não faltam os que se enfurecem; em outros lugares não negam a experiência, mas oferecem explicações alternativas. Experiência chama experiência, e cada avanço abre novas possibilidades. Criam-se comunidades e formam-se tradições. Tetragrammaton não perde ocasião. Onde há uma descoberta, alegra-se como um pai olhando os primeiros passos do eu filhinho, e até há quem diga que se lhe alegra o coração. Apoia todos e está atento à menor possibilidade.
Aconteceu até que um dia descobriu um ponto que, por sua situação, por sua sensibilidade, pelo jogo misterioso das circunstâncias, oferecia possibilidades especiais. acompanha com cuidado os seus habitantes, cultiva-os, consegue ir-lhes descobrindo um a um os seus projectos mais íntimos. Chega o momento em que, dentro do que permite a terceira dimensão, consegue o que parecia impossível: aparece alguém que enfim abre-se totalmente a ele, e compreende que o seu amor é uma presença irreversível, que a sua promessa é mais forte que todas as faltas. Algo tão magnífico que consegue, efectivamente, contagiar: os poucos que vivem no começo formam uma espécie de phylum expansivo que se abre a todo o âmbito da terceira dimensão.
Entretanto, apesar das aparências, Tetragrammaton não abandona os demais. O que poderia parecer um privilégio de "escolhidos" — muitas vezes eles, lamentavelmente, pensam assim — não é mais que a estratégia do seu amor a todos: cultivar intensamente a um só é o melhor modo de alcançar mais rapidamente os demais. Ainda assim, é inevitável que nem todos compreendam e que surjam em seguidas lutas e rivalidades: na precariedade da terceira dimensão todos querem ser únicos e privilegiados. Mas os que estão no segredo sabem que Tetragrammaton sorri compreensivo: ele pensa em todos e a todos envolve no seu amor.
Além do mais, guarda uma surpresa misteriosa que somente ele pode compreender e realizar: um dia acabará por romper os limites do seu espaço para reunir a todos na quarta dimensão. Ali se lhes abrirão os olhos. Nesse meio tempo, ele acompanha, impulsiona... e compreende.
Andrés Torres Queiruga, O Diálogo das Religiões
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