MIGUEL SOUSA TAVARES E OS PARAÍSOS NACIONAIS VIOLENTADOS


Começo a convencer-me de que mais quarenta anos em Portugual
de discursos certeiros sobre ambiente, reformismo administrativo e ordenamento do território,
artigos de opinião e prosápia vã concernentes a estes dois tópicos,
de diagnósticos corajosos debalde elaborados,
de denúncia de abusos urbanísticos, mas inconsequente,
de aberrações arquitectónicas, mas irreversíveis,
da habitual delapidação dos recursos naturais e paisagísticos, mas sem retorno,
mais quarenta anos deste exercício contundente de uma mera indignação formal, dizia,
e o País já será, ainda com mais entusiasmo, este lamentável queijo suíço,
esburacado, desmatado, betonado, desnaturado lá, onde era mais imperdoável.
lkj
Felizmente, ainda acredito na capacidade de a Natureza reclamar para si muitas vezes
o que por sofreguidão de ganho o HML, Homem Medíocre Luso,
julga edificar definitivamente e conservar definitivamente como seu.
Haverá certamente ainda prodigiosos maremotos e terramotos genesíacos
e a respectiva promessa de regeneração e humildade para os insuportáveis chulos corruptos,
céleres violentadores do nosso olhar e do nosso bem-estar íntimo.
lkj
Daí que a eloquência nostálgica de Miguel Sousa Tavares
para com os seus redutos secretos de um Portugal litoral desconhecido e raro,
- o barlavento algarvio e o litoral alentejano intocáveis de há trinta anos -,
em nada me emocione e em nada me acalente rebeliões indignadas, vergonhas virgens,
numa espécie de comunhão meramente verbal com os dedos indicadores acusativos
contra o estado calamitoso a que chegaram.
lkj
Nada a fazer se os Patos Bravios sequestraram o sentido profundo
de um Estado Soberano, violentaram a Nação,
e fizeram da República o corrupto Prostíbulo vendido aos Interesses
que cansativamente se implicitam nos Jornais,
mas nunca terão rosto e a devida punição.
Marinho Pinto mata e esfola. Cravinho amarelamente denuncia.
Sousa Tavares chora e acusa retoricamente.
lkj
Promíscua e puta, a impunidade mais desavergonhada segue igual a si mesma:
lkj
«E todos os anos, por esta altura, percorrendo estas terras que guardo na memória como a mais incurável das feridas, faço-me a mesma pergunta: Porquê? Porquê tanta devastação, tanto horror, tanta construção, tanta estupidez? Tanto prédio estilo-Brandoa, tanto guindaste, tanto barulho de obras eternas, tanta rotunda, tanta 'escultura' do primo do cunhado do presidente da câmara, e sempre as mesmas estradas, os mesmos (isto é, nenhuns) lugares de estacionamento, os mesmos (isto é, nenhuns) espaços verdes? Não, nem mesmo o mais incompetente dos autarcas pode olhar para aquilo e não entender a monumental obra de exaltação da estupidez humana que está à vista. Não, não é apenas incompetência, nem mau gosto levado ao extremo, nem simples estupidez. Em muitos e muitos casos a razão pela qual o litoral alentejano e o barlavento algarvio foram saqueados, sem pudor nem vergonha, tem apenas um nome: corrupção. Acuso essa exaltante conquista de Abril, que é o poder local, de ter destruído, por ganância dos seus eleitos, todo ou quase todo o litoral português. Acuso agora José Sócrates de não ter tido a coragem política de cumprir uma das promessas do seu programa eleitoral, que era a de progressivamente financiar as autarquias a partir do Orçamento do Estado, em exclusivo, deixando de lhes permitir financiarem-se também com as receitas locais do imobiliário - deste modo impedindo que quem mais construção autoriza, mais receitas tenha. Acuso o Governo de José Sócrates de ter feito pior ainda, inventando essa coisa nefasta dos projectos PIN (de interesse nacional!), ao abrigo dos quais é o Governo Central que vem autorizando megaconstruções que as próprias autarquias acham de mais. Acuso esta gente que só sabe governar para eleições, que não tem sequer amor algum à terra que os viu nascer, que enche a boca de palavrões tais como "preservação do ambiente" e "crescimento sustentado" e que não é mais do que baba nas suas bocas, de serem os piores inimigos que o país tem. Gente que não ama Portugal, que não respeita o que herdou, que não tem vergonha do que vai deixar.»
lkj
in Expresso

Comments

Tiago R Cardoso said…
Com não gosto do senhor Sousa Tavares, deixo um cruz credo !!!

Um abraço.

(e atenção que isto não é marcar o ponto é mesmo um forte abraço.)
Nuno Miguel said…
Não gosto nem desgosto do MST, é-me indiferente toda a sua prosápia cheia de revolta interior, bem como os seus livros, os quais li apenas por curiosidade mórbida em saber como é que se promove tão bem algo que é deveras mau.

O ambiente não é, nunca foi e nunca será um tema de interesse e de intervenção em Portugal, pois não dá votos nem maiorias para governar.
O que é pena, pois começa a ser tarde para intervenção e respeitar uma natureza que está à procura de colocar as coisas nos seus devidos lugares.
Pata Negra said…
Acuso os Miguéis Sousa Tavares deste país de serem os ideólogos envergonhados dum regime caduco. Acuso os Miguéis Sousa Tavares deste país de defenderem um turismo das elites e de querem as praias bonitas só para eles.
Desejo um país ordenado, coerente com a natureza e que não seja povoado de Miguéis Sousa Tavares.
Antes mil patos bravos e um abraço dum comentador amador
Patrícia Grade said…
Joshua ou Rex, não sei bem a quem me dirigir aqui...

O MST não é de facto um dos meus favoritos, tenho de concordar com o Tiago, mas há coisas que têm de ser ditas. O algarve e não apenas o seu barlavento, é refém de uma politica local de interessezinhos, de contas privadas no estrangeiro e de negociatas por baixo da mesa para ninguém ver tão descaradas, que só não vê quem não quer.

Na pequena aldeia onde vivo, há 25 anos que um grupo bilhionário dinamarquês queria construir um "resort" com vastos campos de golf e o diabo a quatro. A CCDR, a protecção do ambiente e o parque natural que regem esta região deram sempre pareceres negativos às pretensões dos senhores, porque a zona é protegida, porque temos aqui espécies que não se encontram em mais parte alguma da Europa, porque vais dar uma corridinha pela manhã e aos teus pés surgem-te, vindas do nada, lebres e coelhos, ocasionalmente um javali aventura-se a espreitar-te e espécies de aves que para aqui migram durante todo o ano são incontáveis e belas.
No entanto... Este ano fui a uma mega-festa para a inauguração do imenso complexo turistico aprovado por quem? Nem mais, pelo nosso primeiro em Conselho de Ministros, none other...
E o que vai ser das espécies e da ribeira que corre? Pois os senhores do grupo a isso não respondem, mas já prometeram a ambas as populações que vão albergar o complexo, que vão existir muitos empregos para todos e dinheiro a rodos para o que as populações precisarem...

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