DA VENALIDADE

«A venalidade, disse o Diabo, era o exercício de um direito superior a todos os direitos. Se tu podes vender a tua casa, o teu boi, o teu sapato, o teu chapéu, cousas que são tuas por uma razão jurídica e legal, mas que, em todo caso, estão fora de ti, como é que não podes vender a tua opinião, o teu voto, a tua palavra, a tua fé, cousas que são mais do que tuas, porque são a tua própria consciência, isto é, tu mesmo? Negá-lo é cair no absurdo e no contraditório. Pois não há mulheres que vendem os cabelos? Não pode um homem vender uma parte do seu sangue para transfundi-lo a outro homem anémico? E o sangue e os cabelos, partes físicas, terão um privilégio que se nega ao carácter, à porção moral do homem? Demonstrando assim o princípio, o Diabo não se demorou em expor as vantagens de ordem temporal ou pecuniária; depois, mostrou ainda que, à vista do preconceito social, conviria dissimular o exercício de um direito tão legítimo, o que era exercer ao mesmo tempo a venalidade e a hipocrisia, isto é, merecer duplicadamente.» A Igreja do Diabo, Machado de Assis

Comments

Floribundus said…
Meu caro
escrevia Alexandre O'Neal
«portugal quando de alivia,
mando-nos à mãe, à irmã e à tia»

voltou o Anticristo daquela merda a que chamam reforma
Anonymous said…
O nosso PM ficou ilibado no caso Freeport; viu destruídas as escutas que o envolvem no caso Face Oculta; não foi indiciado no caso Taguspark; completou o curso em Harvard e não na Independente; os casebres cujos projectos assinou foram afinal da autoria de um trolha homónimo; a burla da Cova da Beira na verdade foi em Sofala, Moçambique.
Não há de ser nada... O Supremo Trolha do Universo o castigará convenientemente.

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