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Socratesiano e pateta, graças sabe deus a quê. |
Detesto
delicodoçura especialmente aquela que parte de impostores e analistas-caolho. Odeio ainda mais aquelas narrativas poluídas de uma tónica de notório compadecimento falso, tónica já indevida e desonesta em qualquer altura, muito mais num contexo como este, sobretudo quando se omitem os seus gravíssimos antecedentes. Em qualquer supermercado de qualquer centro comercial do País, em qualquer dia, há jovens e menos jovens mães, acompanhadas dos filhos, e que não fazem contas enquanto compram a pensar neles. Leite, manteiga, fiambre, detergentes... Gastam 20 euros por semana bem contados. Mães que não têm surpresas nem sobressaltos na caixa. Mães que sabem bem o dinheiro que trazem na mão e que nunca se expõem a ter de dizer
«Vou ter de deixar algumas coisas. Só tenho 19 euros.» Mães que não fazem perguntas à empregada da caixa. Mães que nunca comprometem o pacote de bolachas do menino para a escola. Mães há anos com uma lágrima no canto do olho a perguntar-se: quando terei mais dinheiro disponível para uma vida digna, uma casa, para pagar luz, água, gás e sobrar-me algum para viver bem?! As bolachas! Há mães que muito antes de um Gaspar ter sido inventado já viviam envergonhadas por um rendimento abaixo de 450 euros, pobreza de quem por mais que trabalhe nunca imagina que ser pobre seria tão fatal, que a nossa pobreza equivalesse à riqueza dos que se encheram de saque e de roubo enquanto detinham os cordéis da decisão. É essa a vergonha e o pudor dos que a sofrem, mães, pais, profissionais.
Agora que o ministro Vítor Gaspar tem as costas largas, espero que o Nicolau Santos vá perguntar aos Paulos Campos, aos Miguel Sousa Tavares e Marinhos e Pinto da opinião eternamente omissa ou abonatória dos José Sócrates, se me conhecem a mim, se conhecem estas mães e os seus meninos sem bolachas para a escola e que ficam a chorar espectacularmente no supermercado. Mas desconfio que nem o Nicolau nem os ex-incumbentes, nem os perpétuos opinadores, excrementadores de opinião, pararam um minuto para pensar bem no que estavam a fazer, a dizer e a defender, de 2005 a 2011 e não conhecem nenhuns meninos que estejam a passar pela mesma situação. Ou, se conhecem, consideram que esse foi o preço a pagar pela famoso endividamento colossal das contas públicas. É isso que é muito preocupante.
Comments
Eu sei que os tempos estão complicados, eu também passo por isso, mas são as opções que eu faço actualmente. A qualidade é a mesma e não se está a comprar a marca.
É tão verdadeiro o que afirma, e ... foi a vez de meus olhos ficarem marejados de lágrimas. Leio os seus posts sempre que os meus afazeres me libertam e nunca dou o tempo por perdido.
Bem-haja.