DESNAUFRAGAR. DESESQUIZOFRENIZAR
Estamos assim. É o que temos. Temos que em qualquer esquina vemos gente que estende a mão. Hoje, no Pingo-Doce, o velho que estava à frente na fila de compras não tinha moedas suficientes para liquidar nada mais que um sumo light. Enganara-se no preço para menos. Estava embaraçado. Imediatamente fomos três a estender à menina da caixa o montante para pagar aquela insignificância. Somos um só Povo. Sabemos unir-nos perante um inimigo interno ou externo. Não podemos deixar de protestar, de encher as ruas, agora mais que nunca, mas ao mesmo tempo nenhuma outra Hora reclamou tanta frieza, unidade e uma fina percepção do que construir e do que demolir, porque há muito a demolir no nosso Regime e Sistema Político. Não somos homogéneos nem unívocos, mas podemos e sabemos trabalhar pela unidade. Por ela me baterei.
Não sou de Direita. Não sou de Esquerda. Sou do Centro. Sou pelo bom senso e por estratégias de regeneração que têm sido traídas sucessivamente pelos Partidos, dentro e fora do Parlamento, dentro e fora dos Governos, traídas pelo Ministério Público, traídas pela Presidência da República, esmagadas e comprometidas desde o âmago paralítico do Regime. Não me incomoda que Gaspar falhe as suas previsões quanto ao nosso crescimento e mesmo quanto à caixinha de surpresas da meta dos défices de 2012 e 2013. Acho temerário até, quando mesmo o FMI hoje emite a medo, prever sequer seja o que for. Seja o tal crescimento em 2014, de 0,8%, seja o de 2015, com 1,8%, ninguém, em seu perfeito juízo, controla, domina, antevê, seja o que for da realidade europeia gripada e das várias ficções dela. Vivemos em plena esquizofrenia no âmbito da Política e no âmbito da Rua. A Rua também deveria ter objectivos concretos, regeneradores e aperfeiçoadores. Quais são eles? Pura cacofonia e bocas perfeitamente demagógicas e populistas.
Decidi que não cederei à amargura e procurarei estar alegre, mesmo que cheire a absurdo. Se a democracia e o consenso fossem a base para a nosso bem-estar e a superação dos nossos problemas, já o havíamos testemunhado nas várias sedes. A decrepitude dos partidos e o deserto de espíritos livres compromete-a todos os dias. Não basta convocar a Oposição ou os Partidos, movendo-os, conforme move, o preconceito e a cristalização de posições demasiado rígidas e estereotipadas para fazerem face aos desafios do presente. Cada um de nós tem de fazer a diferença, provocar, desestabilizar certezas, por amor do Próximo, por amor do nosso querido País. Havemos de desnaufragá-lo. Comecemos por desesquizofrenizar-nos.
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Finalmente, meu caro Joaquim.
Um abraço!