«QUERIDA JÚLIA» E A SEGURANÇA SOCIAL
Nada contra, tudo a favor que os media se ergam como reduto derradeiro para defender o cidadão, quando injustiçado ou prejudicado no mais concreto do concreto que lhe diga respeito, como, por exemplo, uma prestação social interrompida. As prestações sociais são uma gota de água comparadas com as prestações políticas de serviços políticos à Banca; comparadas com as injecções políticas de capital à Banca; comparadas com os malabarismos políticos dos Vara na Banca; comparada com as prestações comissionistas aos Fundos dos Partidos, escândalo que rebenta agora mesmo em Espanha e talvez não deixe pedra sobre pedra. Vai-se a ver e afinal os Partidos Políticos, essas subtis ocularidades-do-cu, são tudo menos patrióticos.
Que os media pressionam e se interpõem em defesa de um cidadão foi o que me pareceu ter flagrado ontem, fortuitamente, no programa «Querida Júlia», na SIC. No dia anterior, a Júlia entrevistara em directo um casal com duas filhas, cujo marido, sob baixa por causa de uma hérnia, viu, ex abrupto, cessada uma prestação social porque sim, sem uma explicação e sobretudo sem qualquer justificação. Ora, a Júlia ralhou à Segurança Social. E a Júlia obteve, em menos de 24 horas, o que o casal, por mais que penasse, não obteria em dias, semanas ou meses: a reversão dessa cessação, com retoma do pagamento da prestação e com efeitos retroactivos. A Júlia ganhou. A Júlia festejou. A Segurança Social metera a viola no saco e recuara. Tinha havido um erro.
Percebe-se o poder absoluto de argumentação, e com efeitos instantâneos, dos media em defesa do cidadão comum,
perante aquilo que, suspeita-se, parece ser a arbitrariedade, a gestão casuística, como norma para com alguns utentes por parte deste tipo de serviços.
O certo é que se o utente protesta as suas questões em directo, se se queixa, na TV, das injustiças de que se acha vítima, as portas da Segurança Social ou outras abrem-se, os obstáculos desobstaculizam-se,
e, em suma, os problemas desfazem-se imediatamente e com efeitos retroactivos. Todos muito sensíveis à força da TV.
Não queria pensar que a coisa vai por aqui porque não pode seguir por outra via, pela via do bom senso, da fiscalização e da boa fé. Não me parece confortável ter um cidadão de recorrer ao Braço Mediático da «Querida Júlia» a fim de que lhe seja feita justiça para poder comer e dar de comer à respectiva família,
recorrendo a um direito que se pensa não estar entre parêntesis, haja o que houver. Mas descubro que nada sei. E do meu País o que sei desgosta-me.
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