UM PÉNIS DE OURO PARA CADA MULHER
Agora que já capturei alguma atenção, mais a sério. Não venho propor um novo princípio constitucional que garanta uma espécie de Pénis-Magalhães de Ouro a cada portuguesa, vibrátil, na linha dos direitos inefáveis, tendências democratizadoras e aspirações furadas que a Constituição consagra, deveria garantir, mas cujo chulé na verdade nem sequer cheiramos. Também não se está aqui a pensar em roubar aquele caralho de mel que parece estar na boca de Filipe Pinhal quando fala, ó ânsias de falo!, para dá-lo liberalmente a quem de direito carece da mais elementar glucose em suporte rígido. Pudessem todas as mulheres oprimidas e mal-pagas deste Portugal ousar chorar despudoradamente como ele, após anos de capitalização, offshores e mais valias. Não. Venho somente com a minha lenga-lenga beata do costume. Se há uma herança e um testemunho que desejo passar à mulher em geral e especialmente à mulher portuguesa não é de todo que todas passem a ter um áureo pénis só seu, realístico, áspero, nervurado e evocador, claramente artificial e artístico, como o Pé de Ouro engendrado a partir de um molde de silicone com Messi dentro.
Não. É outra coisa. Venho outra vez com a minha conversa sobre a Felicidade com Nada. Continuo nesse ponto igualzinho. Passou Janeiro com o seu palrador atrevido Ulrich. Passou Fevereiro com a pirueta invertida de Gaspar e nada mudou no meu propósito. Prefiro um cêntimo numa caixa esquecida a investir meio cêntimo num pão recesso. Isso vale para mim. Não vale para as minhas filhas ou esposa. É a minha resposta pessoal libertadora perante a injustiça que grassa em Portugal e pune grosseiramente cidadãos vítimas dos ventos globais, mas também vítimas de Governos que viveram acima do Pudor, das Possibilidades Passadas, Presentes e Futuras do Estado, com titulares que viveram ainda mais acima da Moralidade Pública ou do diâmetro do próprio cu, mas é também uma resposta vincada e muito minha perante as distorções e os excessos da sociedade de consumo e dos seus pressupostos autofágicos, suicidas, de ilusório crescimento pelo consumo de mais recursos finitos, de mais energia caríssima, cujo paradigma petrolífero, aliás, ameaça rebentar-nos na cara, não tarda: temos de exercer incomparavelmente menor pressão sobre os recursos do Planeta e mesmo o nosso crescimento, se algum dia tivermos crescimento, deverá operar-se sobre bases ambientalistas novas de plena sustentabilidade e respeito pelo meio ambiente. O nosso Mar, tal como para o estorvo Cavaco, afigura-se como que barras de ouro debaixo do nosso nariz ou a ilustração da célebre máxima ouvida na tropa: Para quem não sabe foder, até os colhões estorvam. Temos Mar. Já não sabemos o que lhe havemos de fazer. E, se sabemos, a UE não autoriza ou demora.
Penso nas mulheres como seres belos, maravilhosos, cuja natureza convida a cuidado da pele, das unhas e do cabelo, à terapia das compras, à sedução pelo que são e pelo modo como cuidam de si e dos demais. São frágeis. Hoje gerem agregados complexos, esquizofrénicos, compactos, alargados, compostos por dois ou três filhos desempregados, por um marido desempregado, por um irmão desempregado, sem falar nos próprios filhos e nos pais, já velhinhos, de quem cuidam.
Ora, a Saúde, o equilíbrio interior destas mulheres e especialmente a sua felicidade íntima, absoluta, estão em causa. Estão em causa para mim e para todos, especialmente os mais vulneráveis e propensos à depressão e ao desespero por doença crónica ou desemprego: ao mesmo tempo que as pessoas deverão libertar-se da compulsão para o consumo, abraçar efectivamente a natureza todos dos dias com pasmo, com tempo e paciência; e deverão amar a arte e TER uma vida intelectual e cultural, devem passar a olhar para o dinheiro com a mesma liberdade dos que o têm exageradamente, invertendo os respectivos pressupostos: a liberdade que os megaconsumidores [banqueiros, ex-banqueiros, jogadores de futebol de topo, gestores da TAP, Jorge Jesus, a Pipocatota] têm de dispor e desbaratar uma hecatombe de recursos finitos é igual à dos que dispensam perder o escasso ou nulo que têm, dispersando um cêntimo que seja em bens que não perduram comparativamente nem na fruição sinestésica de uma tarde no Campo, na Praia, nem no seu valor espiritual absoluto. Nada mais efémero que gastar. Por outras palavras, gastar, consumir, é uma muleta psicológica de fraco desempenho e garantido vazio, especialmente diante de qualquer coisa sublime, como o Mar.
Ser mulher é estar Bela, é ser Bela, é sentir-se Bela, não importa o quê. Eu proponho não consumir, não gastar, não ansiar nada, senão o Belo, senão a Deus, senão a comoção de um dia em boa paz familiar, visitando e auxiliando quem precise, e jejuar quinze horas, almoço, mais seis horas, jantar. Tudo isto liberta, purifica o corpo, faz-nos leves para voar efectivamente com o coração, a sensibilidade, o tacto, o paladar. O século XXI será religioso ou não será, alguém escreveu. A julgar pela quantidade de banqueiros doidos, anónimos homicidas, políticos pirómanos e vulgaróides, seres humanos afectivamente descompensados que por aí sobejam, estamos infelizmente mais próximos do «não será». Cada qual pode fazer a diferença por que os nossos filhos vivam num século que É, saindo o mais possível da equação dos Governos e das Potências que enquadram e gerem Governos com abstracções que nunca levam em conta o enorme peso do imprevisto, do acto de pensarmos fora da caixa e das réguas ideológicas estabelecidas.
Lá, onde os cabrões falam em produtividade e nós percebemos que estão na verdade a falar de mais exploração, perda de direitos, acrescida precariedade, excesso de horas de trabalho, despedimentos na hora, empregos até à morte, reformas como miragem, nós devemos falar e focar-nos em como ser felizes já, em escolher a Felicidade já, Realização Pessoal, Prazer de Estar Vivos, Poupança de Recursos Naturais, Vida Familiar Digna feita de Presenças e não de Ausências, Orfandade Funcional, Exercício da Reunião. Uma tonelada de likes no Facebook não vale um copo num bar com um amigo que realmente goste de nós e não nos estude como um espécime bizarro apanhado do chão e atirado, após bem virado e revirado.
Isto parece-me ser e é Revolucionário: porque quando estou ocupado a ser Feliz, nenhum filho da puta pode atingir-me com as suas políticas cretinas, nenhum burlão pode afectar-me com a sua azia contra a minha classe profissional. Nenhum refinado cretino pode anunciar que, após quinze anos a exercer docência, amanhã não haverá emprego para mim nem para umas dezenas de milhar. É mais ou menos isto.
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