Vala Incomum
De pá na mão,
obliquando para cima as pupilas
desta cova mandibular,
abre-se ainda, rectangular,
um Céu para onde eu olhe, por um pouco.
Branco, fechado.
O tempo é breve, multicolor, alado em alas anjo.
Mas por que se me faz tanta paz agora
e nenhum frio e nem ranger os dentes ranjo?
No topo ou bordos dela, da tumba vala,
pirâmides terrosas com terrões em despique rolando.
Ao meu lado, os homens do meu povo,
são já um só corpo comigo e,
entre o suor, o bafo entrecortado,
e o tremor de mãos,
pelo esforço coveiro e vítima havido,
é corpo cabisbaixo como eu e como eu mudo.
Por trás, a obediência férrea ao crime,
vozes de comando, pressa voraz.
Voltar-me-ei antes do multíplice dedo engatilhado.
Assim.
E que se danem,
que se revejam no meu rosto morituro
mesmo antes da rajada,
saturado espelho e suturado
nos fios da memória esbanjada.
Quando vier esse som que é gume,
vá este sangue manando,
alastrando quente,
como um degelo rubro na neve
vaporosa,
sem queixume.
.
Joaquim Santos
Comments
Quem sabe um dia a paz vence a guerra
E o sol estará sempre a brilhar.."
No dia em que o homem souber que tudo o que planta colhe, pensará muitas vezes antes de apertar qualquer gatilho maldito.
Adorei sua poesia, mas é por demais surreal sentir o que sentiram estas pessoas, sejam elas judeus, vítimas de vingança comum, perseguidos políticos..
Gostei muito do seu blog, voltarei mais vezes.
Antônia
vá este sangue manando,
alastrando quente,
como um degelo rubro na neve
vaporosa,
sem queixume.
.................
eu gosto das últimas palavras...
Hoje em Grecia nós temos a festa da assumpcion de Santa Maria comemorada em 15 de agosto .
Você tem a mesma festa?
Ninguém trabalha
:)
Gostei muito.
forte abrax
RF
Como se diz: «Grande é o coração que perdoa e ama sem limites.»?
Grande = Megali
é=ine
o=i(feminine the heart in greek)
coração=kardiá
que=pu
perdoa=synkhorí
limites=ória
e=ke
ama=agapá
sem=horís
Megáli ine i kardiá pu
sinkhorí ke agapá horís ória
Big is the heart,that forgives
and loves without limits
a poesia é a forma mais fina de se encontrar com a vida. evoé, poeta. ch.
beijo e quando quiseres passa lá no meu cantinho.
beij.
e descubras
no que cai
e jaz esmagado.
Que te revejas
nos actos malígnos do
passado
de cujo sangue
e gatilho
sanguinário
unidos
não cessa
o lavar de mãos.
Éramos nós.
Estivemos lá,
vítimas e cúmplices cem
mil vezes setenta,
julgando escapar
impunes à sementeira
derradeira,
à grande crase
entre o cá e o Além.
Joaquim Santos
Li o "remoque" (Roy place) e não percebi a "ironia"...
Será que os dinossauros estão com "ciúmes" dos passarinhos?
Honi soit qui mal y pense!!!
Abrx...
Então eu alguma vez seria capaz de ter 'ciúmes' de si, homem? Isso é tão impossível como o Camões ter ciúmes do Pessoa ou o Zé Cabra ter ciúmes do pior José Cid (também há um óptimo).
Vá lá, nesta canoa da poesia, reme daí que eu remo daqui. Não vê que a canoa gira sobre o seu próprio eixo se nos pomos a prospectar, feitos chicos-espertos, o que realmente pensamos de tudo e de todos?
Abraço
Vim retribuir tua visita e...que maravilha aportar em um cais de pura arte sensorial concretizada em poesia.
Estou te linkando lá no bloguinho e, certamente, aportareia aqui mais vezes.
Abraço!
bjus...
anyway i guess that it is good.
Do you mean that
Western people can convert
to Islam easily,but the opposite...
Islam people to become
westernized
is difficult?
aqui
A vida não recua, e não se retarda no ontem. Nós samos o arco do qual os nossos filhos, como flechas vivas, são desparados...
Que a nossa inclinação, na mão do arqueiro, seja para a alegria e não para os "desertos" da criminalidade, das crenças além do bastante ou para onde não há "rostos humanos".
Os nossos filhos não são nossos filhos. São filhos da vida, anelando por si própria.
Sou o segundo
a contar da direita,
sou o terceiro
a contar da esquerda,
o de casaco escuro,
o mais alto e o mais largo talvez
dos que assim nos perfilamos
para receber do fuzil o fogo.
Damo-nos as mãos agora.
Deu-nos para isso.
As nossas faces nuas,
o corpo vestido,
os pés calçados
estão prontos para o momento.
O silêncio é gritante.
O que é morrer?
Sempre se morreu e nunca sabemos o que é
ou que desvinculação
deste tacto e desta luz seja.
Ao menos, se a seguir morreremos, não é empunhando armas,
não é com a culpa igual
de igualmente matarmos.
Se o absurdo soma e segue,
que seria de nós sem a esperança
de que Deus a seguir nos recebe?
Se o absurdo comanda tudo,
porque se nos soleniza dentro tanto
esta hora? E o que é ser homem senão esta palha em trânsito não se sabe para que festiva fogueira?
Dizem que de Deus não há provas?
Mas há.
A mansidão em quem a tenha
absurdiza o absurdo e
é A prova,
o sabor
doce e certo de uma Pátria Outra
onde corre todo o Leite
onde corre todo o Mel.
Sou o segundo
a contar da direita,
sou o terceiro
a contar da esquerda,
o de casaco escuro,
o mais alto e o mais largo talvez
dos que assim nos perfilamos
para receber do fuzil o fogo.
Nada tememos.
Não se nos tremem as pernas.
Não destilamos nem ódio nem vingança.
Só nos vem à memória
o repercutir de uma velha frase de absolvição absoluta: «Ignoram o que fazem. Perdoai-lhes, Abba.»
Joaquim Santos
Foi o primeiro de muitos tropeções.
Agrada-me o teu enorme dom para a escrita, voltarei mais vezes!
Linkei-te no meu blog, espero que não te importes.
Beijinhos
Diana
bye for now, silvia
Abraços