A CARNE DO POEMA
Errante, procuro a Suma Arte
e ela, aquosa, altíssima, borbota-me feroz como a mandíbula do felino,
como o fácil estalar de ossos entre os dentes da hiena.
Derivo ao faro da beleza e do sublime
e ambos me eclodem como a brusca inflexão
natatória do grande tubarão branco
ao mínimo sanguíneo odor.
Conheço o oásis, os fios de água que esbranquiçam espumosos pela rocha,
mas é o punhal e o longo canino
o que se me desembainha da alma.
Não me negarei a torrente nem o degelo.
Não estrangularei este cio de fome
tenebrosa que se me aninhou
no âmago.
Não conheço sossego
senão no devorar maciço do verbo carne
que acontece acontecer-me.
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