NA MORTE DE YURI NATALIVIELICH BOGDANOV














Maldito sejas,
Anatolievich Gagarinenko Dournotsenov.
Tinhas de apunhalar, mortífero,
Yuri Natalivielich Bogdanov
e por isso cuspo-te nessa cara pálida de eslavo
mais pálido que a negra morte.

Ali ficou o pobre, rosto colado ao chão num olhar mumificado,
as mãos enclavinhadas no vazio, a boca retorcida,
as tripas pendendo,
e aquela poça de sangue oval contornando vidrinhos pequenos,
como um vestido rubro e acetinado.

És fodido, meu bandido maldito!

Naquela noite, vodka voou das garrafas para os copos.
Cantastes. Dançastes. Quebrastes-los até acabarem.
Era já de garrafa na mão, na mais pura alienação abraçada e cambaleante,
que as palavras se trocavam, alternavam e misturavam.
E só porque ébrio te disse que eras um bom cabrão cornudo,
a ti, que lhe emprestaste 1200 euros
que nunca mais viste
e nunca mais verás;
a ti, que lhe ofereceste um dia o carro, as luvas e as botas
com que se agasalhou para se exibir nas putas,
tinhas de o abrir, sangrar,
derramando-lhe as entranhas!

Porquê? Porquê 7? Logo sete!
Sete naifadas de raiva.

Não sou Stefania Anatolievna Gourianova não sou nada
se não te rogo uma praga
que te apodreça esses dentes onde rebrilha o ouro,
que te deixe com inúmeras e inexplicáveis caganeiras,
dores de corno e lágrimas por um bolso sempre vazio;
que te tire esse tesão de garnizé com que festejas glorioso
tristes coitos curtos e ocasionais,
tão curtos,
tão ridículos
e ocasionais
como os de animais impotentes como tu;
que te faça doer tanto o cu que nem sentar tu possas;
que te apareça aquela que te cortará rente esse caralhinho tímido e friorento
e fiques tão desgenitalizado como a pintura de passenta mulher que vês.

Considera-te perdido, Anatolievich Gagarinenko Dournetsov.
Se mais ninguém sabe,
se mais ninguém quer saber,
neste pequeno país de mierda,
eu sei que foste tu!

Não tenho corpo para ti.
Mas tenho unhas com que vare e esgane
essa alma de pobre diabo.

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