BANANEN REPUBLIK OU MASOQUISMO APAZIGUADO


Naturalmente, o meu patíbulo laboral, o Pub, esteve às moscas, esta noite,
na ressaca de um resultado frango de mais para as melhores das expectativas
de muitos. Quase ninguém apareceu. A festa e a alegria engatilhadas
não puderam deflagrar. Só estoirou seca uma espécie de deprimência cor de chumbo
e uma espécie de lassidão semelhante à lassidão pós-coito
quando o coito prometeu mais do que deu e por isso desconsolou.
lkj
E eu, que pura e simplesmente não tenho tido a mais pequena
paciência com entusiasmos pueris a propósito de futebol e passo completamente ao lado
dessas conversas pelas quais tesos e gente sem lugar no cemitério
tanto se apaixonam e às tantas matam e enforcam por amor-corno de um argumento,
eu não escapei de escutar o paleio mais previsível e cansativo do Cosmos nessa matéria.
lkj
Tive quanto a isso um convicto esgar desprezivo.
Também por lá se falou de África perdida por isto e aquilo, assim ou assado.
Ouvi. Guardei. África é uma questão ao rubro na psique detroçada de um povo
sem-nunca-mais-el-rei-D. João II. D. Sebastião, morrendo, efeminou-nos para nunca mais!
Cêntimo a cêntimo sobrevivo e só assim posso viver: nada mais me pode importar.
Que se foda tudo o mais! O futebol, as conferências de imprensa,
as politiquices de última hora, os interesses sôfregos, as traições mediáticas,
as desconcentrações por traição mediática, os chupas-chupas e a boa disposição-da-piça,
as conspirações e as tricas, os perus e as avestruzes resultantes da fragilidade de carácter,
tudo isso merece-me o mais amarelo dos sorrisos amarelos e cínicos.
lkj
E foram poucos lá, no Pub, e mesmo esses poucos,
tristes, murchos, magoados, flagelados de tédio.
Já sabia que por trás das recentes apoteoses em terras suíças dos emigra-nacionais
em torno dos rapazes dos penteados criativos, que por acaso também chutam à bola
e agora também já sabem acenar às pessoas que, babantes de acefalia, lhes acenam,
acenos meios nazi, como os que Bush lhes foi ensinando,
já sabia que havia outra coisa misteriosa nesse simpático povo manso irredutível nas estradas:
uma vontade de sofrer, um gosto de sofrer,
um prazer intenso sofredor de elevar o mais alto possível o sofrível sonho
para depois cair dele com mais fragor e dano ao estatelar-se.
lkj
Por isso, assisti a essas mesmas apoteoses clássicas de Reis regressando da batalha
antes mesmo de a terem travado, enrouquecidas por uma corte de jornalistas
competentes a falar eufóricos desta espécie de antimatéria, 'o futebol', a 'selecção'.
Por isso, rocei televisivamente nessas apoteoses com um encolher de ombros alheio,
promovidas pelos Media e alimentadas por essas multidões emigradas,
roubadas e apertadas dia a dia por lá e incomparavelmente pior apertadas e roubadas por cá,
caso ainda persistam no Portugal das novas oportunidades de suicídio e de desemprego,
esta República das Bananas a mais corrupta e desnecessariamente decadente
num raio de dois ou três mil e seiscentos quilómetros.
Por isso, ficava especado, mas só por um instante,
diante de essas apoteoses de multidões apanhadas a sair de um aeroporto suíço
quase a descairem à pergunta manhosa dos jornalistas, armadilhada:
«Então, amigo, a vida está cara, mas vale a pena voar até aqui, não é?» e tal
e nós a vê-los quase a responder que sim, mas a travarem a tempo na resposta emendada,
equipados, pintados, apalhaçados para o mundo rir e a pasmar nesse amor redutor e fanático,
prontos para a farra, com fronha de garrafão de cinco litros, ostensivos babuínos humanos,
sem qualquer vislumbre de sofrimento por colapso económico-financeiro.
lkj
Pobre gente ingénua, posta a correr e a saltar, a dançar conforme a música e os directos TV,
títeres de altos poderes comerciais, a Galp, a Caixa, sem nenhum distanciamento e reflexão,
jogadores do Casino da Vida, narizes rubicundos de um bom verde tinto!
Já sabíamos que por trás dessa espuma o que há
é um oceano de masoquismo mal explicado e mal satisfeito.
lkj
Esse masoquismo quer aflorar, clama por satisfação, mas as pessoas resistem.
Fazem de conta que não é com elas.
Porém, os deuses são bons. Dão-lhes a cereja da dor,
uma vez que o topo do bolo da ilusão inflada a hélio no balão do nada já o tinham.
Bastou um bocado de pragmatismo e de intensidade, uma pitada de superstição,
uma asa de morcego de teimosia, uma pata de aranha de treta e basófia,
uma santinha de barro de cupidez e de ganância,
uma caganita de rato de vaidade, um peido de grandeza milionária
e de desorientação ética, e pronto: os rapazes dos penteados estranhos,
que também chutam bolas, regressam precoces.
E, com eles, foi todo um País a ejacular fora de tempo.
lkj
O Povo retoma a sua vida difícil a convalescer desse seu nefelibatismo alienado,
desse seu sucedânio doloroso da realidade a doer. E pronto. Fez-se luz.
Deu-se de comer ao masoquismo nacional.
Haverá maior cromo do masoquismo que o Benfica de Luís Filipe Vieria,
a pagar promessas por todas as uefa-secretarias da bola
como um bom recordista do Guiness em meter nojo e a marchar de costas?
Deprimente! Ridículo! De vómito! Mas enfim, é da espécie:
adora padecer e peregrinar esse ostentivo padecimento estéril!
São uns bigodes fatais os dele, mas é da espécie, repito.
Afinal, é duro resistir a um Vício de Sofrer assim tão arreigado!
Mas ao menos, em ambos os casos, jaz agora apaziguado!

Comments

Olá:

Um acontecimento tão simples..tão bem contado.

Vi o jogo...vi dois...o penúltimo que foi uma porcaria e o último que perdemos.

Fiquei igual...não vibro com o futebol...não me faz feliz as perdas ou ganhos...

Afinal no meio disto tudo quem perde são as mulheres deles que depois aparecem em revistas em excelentes férias com cuecas fio dental e cus tostados.

A minha vida continua igual depois das armas e os barões assim babados terem ido água abaixo...sem grandes sobressaltos.

beijo
Sobre o "monte de merda" de que falámos lá no Pleitos, conforme lhe prometi cá sou a provar (não, nunca minto)o que por lá respondi. Isto data de Setembro de 2005. Quem guarda, tem.

Resposta ao David Oliveira do "Causas e Coisas":
- Não era bem isso que eu queria significar - não tenho qualquer tipo de vergonha em me considerar "de direita".(...) A direita portuguesa é, há muito, um óptimo case study para se perceber a impossibilidade razoável de um liberal ser conservador ou se sentir bem nesta direita - neste contexto, a direita portuguesa representa muito daquilo que um liberal não deve, nem pode, ser. Essa é a principal razão que motivou o meu esforço de separação das águas.

Pelo que ainda assim retorqui.

Resposta ao CAA do "Blasfémias"
O CAA do Blasfémias responde-me, mas não me convence.
Meu caro concidadão: serei eu também liberal [no que respeita a catalogações poderei ser tudo ou antes quase tudo o que quiser excepto marxista, leninista, maoísta, trostskista, socialista, socialista- democrático(?!)] ... serei com certeza granítico contra a dita esquerda, a pura e dura e as esquerdas de nuances - as esquerdas infiltradas;
contra o que eu me insurjo é contra a preocupação, quase subconsciente que revelam (que o senhor revelou) quando se têm de expôr: «sou de direita mas...!», atitude que eu não vejo nem sinto, nos que se dizem de esquerda. Esses dizem-se de esquerda, ponto final. A catalogação deixam-na aos outros. Será porque eles se adiantaram e solucionaram as balizagens ideológicas.(...) dando de barato que a direita portuguesa é para além de estúpida, cobarde, melhor não encontro na área liberal portuguesa. Pelos vistos os liberais nunca se assumiram ou não tiveram engenho para tanto e encontram-se para aí infiltrados, disseminados pelo PP, pelo PSD, pelo PS, pelos partidos monárquicos, pela abstenção, etc... Se eu precisasse de mais algum exemplo já o tinha. Olhe em seu redor e veja pela blogosfera nacional o número de blogues pessoais e colectivos que se reclamam do liberalismo. São mais do que muitos. Cada cabeça sua sentença. Inconsequentes, absolutamente inconsequentes.

Como tenho dito e redito um dos maiores males desta sociedade de há muito...tanto tempo são estes cenuros, estes camaleões que sempre arranjam onde e como chularem. Este, concretamente, prognostiquei na ocasião - e cheguei a aconselhá-lo - (se quiser também lhe mando o escrito) , se não lhe chegasse pôr-se em bicos de pés que comprasse umas andas. Infelizmente para nós o meu prognóstico foi certo, certíssimo. Começou a balbuciar umas cagadas na RTPN hoje você já o pode ouvir - é a segunda vez em menos de um ano - no Prós e Contras.
Aqui, por cá, muito dificilmente nos libertaremos desta teia. esta teia passa de geração em geração, meu amigo.
E eu é que sou o má língua. Puta que os pariu.
David Oliveira

P.S.: enquanto puder não lhes largo as canelas!Só tenho pena é de não ter maior leitura.
E aproveito para lhe dizer então outra: aguarde que não vai passar muito tempo que você irá ver este imbecil porque é um imbecil a mamar por aí num orgão, instituição qualquer...Sabe por onde é que o gajo vai entrar? eu digo-lhe: pelas franjas de paraquedistas que aguardam a instalação de Manuela Ferreira Leite.
O que me chateia: é saber que ela como outro qualquer aliás a maioria das vezes nunca chegam a aperceber-se de nada. É humanamente impossível.
Como diziam na vida militar: se quiseres resolver um assunto não vais ao general, vais ao sargento.
Abraço
Tiago R Cardoso said…
Muito bem escrito, excelente.

(Depois da resposta que levei no Notas, convém dar um pouco de graxa, elogiar o homem e comentar pouco, não vá o Joshua acordar outra vez mal disposto.)
Tiago R Cardoso said…
Andas mal disposto, não andas ?

Diz-lá, andas não andas ?

Tens de me dizer como descobristes que eu engordei ?
Pata Negra said…
Acabo de ler o único texto que li sobre o euro. Gostei! Parece-me que o seleccionador era brasileiro e vai-se embora, que o guarda redes se chamava ricardo e que há um moutinho que eu confundo com mourinho - têm-me dito!
Joshua, o teu diário, não é de de solteirinha indesejada, não pode ser livro, só pode ser blog e pêras! As tuas palavras são coisas que não partilho mas que espartilho.
- Estou a tentar dizer alguma coisa mas não consigo!
Por isso, aquele abraço até às próximas despalavras

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