EFEITO PAVLOVIANO AMESTRADOR


Ao estudar a produção de saliva em esfaimados cães rosnadores expostos a diversos tipos de estímulos palatares, Pavlov percebeu que, com o tempo, a salivação passava a ocorrer diante de situações e estímulos que anteriormente não causavam tal comportamento. Do mesmo modo, ao ver que os portugueses, com uma mão, amavam a bufaria e a tirania, a controleirite de costumes, a vigilância das opiniões e os despedimentos por delito opinativo, a miséria disseminada, os ganhos ilegítimos, enquanto com a outra mão se comoviam com a Liberdade evocada num mísero dia vinte e cinco aprilino hipócrita, Zézito também percebeu que, com o tempo, a amestração submissa mental dos portugueses passaria a ocorrer diante de situações mandonas e de estímulos grisalhos que durante algum tempo não causaram tal comportamento. Por isso, ganhou confiança. Aterrorizava de Passado e responsabilidade-PSD o Parlamento e diziam que ele ganhava debates. Gastava balúrdios em Propaganda e diziam que era popular. Metia processos a Jornalistas que redigissem as palavras 'corrupto', 'Cicciolina' e 'Freeport' e diziam que tinha honra. Atirava dinheiro aos Bancos, aos Amigos e aos Problemas e diziam que tinha uma visão estratégica para a economia e uma saída para a Crise. E não faltaram Margaridas obesas e brutas tão papistas como o papa Zézito. Assim despontou uma multidão de três milhões de portugueses clones, lúbrica pelo Zézito, perfeita e pavlovianamente resignada e engravidável pelo Zézito. Pronta para se entregar, nos escrutínios eleitorais de 2009, e preparada para o pensamento único e a obediência pavloviana sem hesitação ao Zézito. Ser capachos fáceis, depois de quarenta anos de Salazar, entranhara-se-lhes na constituição genética, na psique, e o Zézito iconografava o grisalho santacombadense num mimetismo agressivo de pose e tique trabalhados ao espelho e pensados ao pormenor pela equipa de acessores de Imagem e Marketing Político. E não poderia ser de outro modo. Zézito tinha a sua nova maioria absoluta alarve e grunha. Povo e Zézito estavam bem um para o outro: «O líder parlamentar do PSD, Paulo Rangel, acusou hoje o PS de estar procurar "pôr uma mordaça" nas opiniões dos sociais-democratas, devolvendo as críticas de "visão cinzenta" aos socialistas. "O PS procura pôr uma mordaça nas opiniões do PSD", acusou Paulo Rangel reagindo às críticas que o ministro das Obras Pública, Mário Lino, lhe fez hoje em Faro. [...] Segundo Paulo Rangel, o Governo está a "roubar a liberdade de escolha às gerações futuras" com o seu "programa de grandes obras públicas" porque este deixará "uma dívida monstruosa", uma "renda anual de 1500 milhões de euros até 2040, durante 30 anos".»

Comments

manuel gouveia said…
Sempre fomos domesticáveis... e nem por isso damos os melhores maridos!

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