MAUS SINAIS DO IRMÃO BRASILEIRO

Provavelmente, alguma da elite política brasileira hoje no Poder acompanha com ignorância e desdém os acontecimentos dramáticos na Velha Europa, especialmente as humilhações do Estado Português sob resgate externo, convencida de que as suas escolhas megalómanas à pala do Mundial 2014 e dos Jogos Olímpicos 2016, não lhe trará amargos de boca também a ela. Se assim é, essa elite é mesquinha e acerba. 

Basta a simples noção de que, tal como em Portugal, a força devoradora da corrupção brasileira tragará , uma e outra vez, fatalmente, na sua voragem, todo o potencial criador e justo de uma economia repleta de potencial. É pena. Num mundo global, ninguém vive com a miséria vizinha, nem que o vizinho [pomposo país irmão] fique a mais de nove mil quilómetros. Porém, no Brasil provinciano e circunscrito de Dilma, tudo é possível. Até a ingratidão.

Ora, medidas como esta recente, de reafectação a outros países de sete mil estudantes brasileiros que tinham escolhido Portugal para fazer parte dos seus estudos superiores, após o Governo brasileiro ter anunciado, no dia 24 de Abril, o cancelamento das bolsas para Portugal concedidas no âmbito do programa Ciências Sem Fronteiras, além de ressumarem ingerência na esfera pessoal dos estudantes e serem de duvidoso sentido estratégico num País que, em todo o seu gigantismo, só ouve a sua língua e a sua língua é a sua única música [não há legendas nos filmes, nas séries, em inglês, francês, alemão, espanhol]  só vêm comprovar que Portugal, nesta hora decisiva e solitária, em que todos os tapetes nos são tirados de debaixo dos pés, não tem todo o apoio nem toda o carinho que merece do Brasil. Tem o preconceito em cima. Tem o mito tropicalista ressentido, presumido, e os seus equívocos de reescrita histórica ao arrepio da tese Casa Grande & Senzala. Tem a desconsideração pelo pequeno País, o castigo do desdém, o alheamento desse Brasil, por tanto tempo vítima do FMI e ainda sujeito a ratings nada lisonjeiros por parte das agências de notação sediadas no Umbigo do Mundo, Nova Iorque.

Sim, isto é bem verdade para as pessoas e para os Estados: no mundo real, quando não se tem dinheiro, até os cães nos vêm mijar às canelas, coisa ainda mais verdadeira numa sociedade ultraliberal, para lá de salve-se-quem-puder, como a brasileira. Ouve-se dizer que as coisas vão melhor que nunca no Brasil, mesmo com uma Europa que não compra e num mundo em suspenso e em risco global perante o abismo europeu com a crise do Euro. É possível. Mas a primeira vítima da alta política do Planalto já é o défice de nobreza de que a medida referida é só um sinal. Um mau sinal.

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