SÓ HÁ SELVAJARIAS DE ÚLTIMA HORA?

Não posso, não me sinto bem em apontar o dedo a este Governo com a impaciência e a ligeireza com que anteriores responsáveis governativos o fazem, dia sim, dia sim nas TV e nas Rádio, enxameadas por caras-de-cu algumas delas dignas de pena, outras de asco outras de perplexidade, como a de Manuela Ferreira Leite. Décadas de governações condicionadas, calculistas, de saque corporativo para políticos e as suas clientelas, a temer os efeitos eleitorais do que se pudesse e devesse fazer de útil e profiláctico de uma desonra como a bancarrota retiram a muitos comentadores, que já sabemos que vão dizer de dizer, moral para dizer que vêm dizendo e soa bem, mas não têm o dom da honestidade.
Não é uma questão de arrogância, de desprezo, de selvajaria o que testemunhamos na acção deste Governo sob os auspícios e pressões do eixo Berlim-Bruxelas-Nova Iorque. Quando a sobrevivência e as condições de dignidade nacional estão comprometidas, a observância da lei e os pactos passados subordinam-se a nisto: proteger os mais fracos com soluções sérias, o mais possível reforçadas pelo concerto europeu, sólidas porque sob apoio europeu, credíveis porque ao encontro do estado de emergência nacional. Cuidado, otários, com a demagogia. A demagogia da fuga pela fuga e da negação pela negação, a demagogia da renegociação unilateral impossível. A demagogia das soluções fáceis anda na boca de toda a gente com as mãos cheias de nada, mesmo de partidos que deveriam ter juízo e sair do infantário. A credibilidade externa do nosso país não tem preço e tem melhorado objectivamente, alargando as nossas opções de financiamento. Não temos tido democracia digna desse nome, senão para roubar os cidadãos mediante corrupção e incompetência. Agora é preciso comprimir um conjunto de direitos adquiridos e certezas inalienáveis para restaurar o que é preciso restaurar numa perspectiva de bem comum, um bem maior. Depois de um Governo coveiro de todos os valores de justiça, de segurança, de legalidade, de respeito, democracia, valores que se comprometem quando se comprometem as boas contas do Estado, temos um outro Governo, o mais impopular de todos, que se prepara para fazer o que nenhum outro teve coragem para fazer, porventura a menos e ao lado, mas fazendo. Crueldade foram décadas a engonhar e a enganar o pagode. O que arde cura e não há mal que sempre dure. Quimioterapia não é selvajaria, é uma medida urgente para uma situação de vida ou de morte. Enquanto cada qual pensar no seu caso e no seu privilégio, não há País.

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