BE E PCP, SEDUZIDOS E ABANDONADOS
É prodigioso observar o fenómeno do passa-culpas no dossiê contratos swap. A Oposição acaba de encontrar um gnu manco na manada governamental. Saltam leoas, hienas e abutres no seu encalço. Pedem sangue e demissão. Pobre Maria Luís Albuquerque! Bem tenta espernear, aparar os golpes, mostrar que não mentiu. Mas nada parará a magna tarefa patriótica dos partidos da Oposição de moralizar o Governo Moribundo, Morto, Inumado, Exumado, etc., coisa a que se prestam, à falta de mais o que fazer. Portugal, que já engoliu elefantes e baleias com licenciados falsificados, com decisores absolutamente criminosos, não pode, ai Jesus, engolir o girino Albuquerque, as imprecisões e graduações da verdade da Ministra das Finanças! Coisa curiosa é a sintonia de propósitos e princípios entre BE, PCP e a Ala Socratista do PS: dir-se-ia que os primeiros estão a ser seduzidos para a grande convergência de Esquerda, materializável em eleições a qualquer momento. Pobres partidos! São como a mulher ingénua e simplória para a foda oportunista e o engano que a descartará sem qualquer sombra de dúvida. Entretanto, com a barafunda, o pó levantado, a vozearia estéril, em torno da tenra Albuquerque, perde-se de vista quem em primeiro lugar contratualizou os swap, quem os autorizou e recrudesceu autorizações, quem, em seis anos de Governo, não fez a ponta de um corno para suspendê-los, renegociá-los ou abortá-los. Não. Pelo contrário, com a bênção tendenciosa dos media nervosos com o estatuto indeterminado da RTP, somos obrigados a determo-nos, com olho exigente, no que em dois anos não foi feito. Isso é que é gravíssimo. Cenas fúteis e cínicas que nem a remodelação do Governo permitiu secundarizar e fazer esquecer. Mordido daqui e dali, o gnu Albuquerque sangra e ainda esperneia. Talvez, na caça dada à Ministra das Finanças, o que está em causa é a caça à política gasparista que subscreve. O horizonte de curto prazo é pasto de enormes e profundas incertezas. Vamo-nos dando conta de que a situação do País não permite tranquilidade nem margem para improvisos.
Há um Governo mantido em funções. Sabe-se, por A mais B, que o maior Partido da oposição eleitoralizou completamente o Processo Negocial de Salvação Nacional promovido pelo Presidente e só saltou fora, sabe deus porquê, um dia depois de ter dado a entender a iminência de um acordo. Agora, empossado o Governo Passos Coelho II, a paz política regressou e todo o zunzum de crise política redundou no silêncio sepulcral da expectativa. Vai-se a ver, e as exéquias do Governo haviam sido manifestamente exageradas tal como as notícias de uma Oposição vicejante, grávida de alternativas para além do aventureirismo mais bacoco. Outra coisa que mudou foi a retórica do Governo. O problema é que e com essa retórica que se contemplam os escombros da economia nacional. A degradação da situação económica e social tornou-se uma evidência, sendo que a receita do Governo fora mesmo essa: destruir para redimir, não cuidando que destruir de mais poderia inviabilizar redimir o mínimo. A saída de cena de Vítor Gaspar parece um símbolo. Sai a face mortífera da moeda do Ajustamento: Gaspar implementou uma via que, sobretudo pelo aumento brutal dos impostos, destruiu emprego, economia, consumo interno, a par de efeitos benéficos inegáveis e até inauditos, na democracia: dos índices de poupança, do equilíbrio na balança comercial, ao desendividamento familiar e empresarial. Mas após a saída de Gaspar, o que sucedeu foi somente política, politiquice e politiqueirice. A economia seguia impávida e serena no seu remanso dorido até que a política governativa, aterrorizada com os números do primeiro trimestre, entrou em fase de pânico e deserção só sustida pelo já célebre: «Não me demito!»., enquanto mercados e bolsas ardiam. Agora voltamos ao ponto de partida. O que fazer para acelerar uma saída sustentada da recessão?! O que fazer perante uma taxa de desemprego cuja gravidade não pode deixar de apavorar?! O défice tanto mostra sinais de controlo como indicia derrapagem: o que se fará por uma execução satisfatória dos orçamentos rectificativos?! A dívida parece gritar por um PIB improvável pelo qual se suspira há décadas, após anos de estagnação e dois ou três de recessão. Quais as políticas novas, europeias, berlinenses, passistas, capazes de inverter esta lógica abissal da economia?! Não será sustentável somar mais um ano a este 3.º consecutivo de recessão; mas também não é esperável nem desejável que o Estado regresse a um tipo de investimento socialista cuja transparência eficácia deixaram imenso a desejar, sendo que, de 2010 a 2013, a queda desse investimento terá sido de 35%; da mesma forma, não se pode ser hipócrita na consideração da dívida pública escamoteando dela os montantes do resgate e a regressão do PIB como explicação para os actuais 125%. Mudança. Fala-se de mudança de política económica. Na Europa. Na Troika. Mas poderão as economias europeias parar de alavancar o sistema bancário do pé para a mão e, logo, parar a austeridade nos Estados, meio para outros fins, mas também esse?! Poderemos ter uma economia no médio prazo que sustente o nível de despesa actual permanente do Estado Português?! Os cortes de €4.700M são, cada vez mais, uma meta na ordem das miragens e não na da concretização, embora o Tratado Orçamental os exija.
Acredito que esse tipo de cortes fasear-se-á ao longo de mais anos. É fatal. Foi o espectro deles que tornou explosiva a situação na coligação e contraproducente a situação política das primeiras três semanas de Julho, em Portugal. Portanto, devidamente negociado, cortes daquela magnitude serão feitos aos bochechos e 2014 não se ressentirá recessivamente deles com um impacto tão brutal. A política europeia, essa seguirá como até aqui.
Tudo o que force na economia ganhos de competitividade, equilíbrio ou vantagem na balança de transações, poupança nas famílias e nos Estados, tudo seguirá e prosseguirá, sob o alto patrocínio e estímulo alemão, como até aqui. A nossa fome não interessa. Bem poderemos continuar a comer merda e a contar os trocos para sobreviver. Nada se fará pelo consumo interno. O consumo interno recuperará por si sem estímulos governamentais, sem a artificialização de um dinamismo qualquer independente do real músculo do sistema económico. Basicamente, não mexer, não inventar, não proceder senão a alterações mínimas fiscais que lentamente levantem os bloqueios que suportamos. A crise política está debelada. Falta vencer a outra, a da moeda e a da economia. As oposições entretêm-se com a ministra gnu Albuquerque, ciosos de uma brecha a explorar, embevecidos por uma aliança zelota BE, PCP, Ala Socratista do PS, em futuras legislativas. Prontos para passes de sedução, coito fogoso e abandono cretino, partido mulher usada e abandonada. O País, esse está alheio. Ainda há bocado, em Gaia, em plena hora de ponta, a cidade parecia uma ruína do far west, desertada de gente, centenas de lugares de estacionamento vazios, ninguém nas ruas: onde param as pessoas? Em que algarves, tunísias, caraíbas, brasis, para onde emigram e desaparecem os meus conterrâneos?! A crise económica e financeira está num impasse, num crescendo de incerteza, estando por estabelecer o grau de cumprimento ou afastamento das metas para este ano. O terror que o País experimentou só à conta dos efeitos de duas demissões e da putativa chicotada psicológica do Presidente, chegou e sobrou para prevenir aventuras futuras do mesmo género. Se há coisa que põe em causa o fim do Programa de Assistência é a instabilidade. Um Governo quieto faz milagres e a aparência de milagres. Bastam-nos as incertezas do desempenho económico, da arrecadação fiscal, das privatizações e cortes que nos garantem necessários, acordados desde a primeira versão do Memorando. Os partidos que se prestam à sedução e ao abandono pela Ala Socratista do PS tem uma Albuquerque peluda entre mãos. Andam entretidos com isso. Têm mais olhos que barriga.
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